José Pacheco | Foto: José Barreto Jr.
“O centro do processo de aprendizagem deve ser o aluno. E cada estudante aprende ao seu tempo, ao seu modo. A Escola da Ponte, que é pública e fundei em Portugal, é a primeira no mundo a ter essas práticas. Conta-se nos dedos as escolas que também fazem o mesmo”. Essa é uma das falas apresentadas pelo professor português José Pacheco durante diálogo com profissionais da educação em Feira de Santana.
A educadora da rede pública Márcia Cristina Santana estava presente no encontro, que foi gratuito. “Na universidade eu fazia parte de grupos que estudavam artigos relacionados ao trabalho do José Pacheco. A Escola da Ponte é um sonho. Amanhã mesmo farei diferente [a respeito das práticas pedagógicas]. Saio desse evento cheia de esperança”, declarou.
Entre outras questões, o professor português também defendeu a autonomia das escolas. “A legislação brasileira, especificamente o 15º artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), determina que as escolas sejam autônomas, para evitar que um burocrata complique os processos. A escola não muda toda de uma vez. A proposta é formar uma turma-piloto [para nela aplicar novas práticas pedagógicas]”, afirmou José Pacheco.
Joana Imbassay, educadora na rede privada, também participou do diálogo. “Às vezes somos engolidos pela rotina, pelo cansaço e desgaste. Ouvir o fundador da Escola da Ponte nos dá um sopro de inspiração para buscarmos uma educação diferente, uma educação que a gente sonha. As falas dele me inspiram inclusive a repensar meu projeto de doutorado, que estou começando a escrever”, destacou. No encontro, o educador português apresentou também a obra “Por que não existem mais escolas como a Escola da Ponte?”, seu mais recente livro e onde responde a essa recorrente pergunta feita a ele mundo afora.
O diálogo com José Pacheco foi organizado por Sidinea Pedreira, professora do Colégio Estadual de Tempo Integral Kleber Pacheco (CEKP), em Salvador, e líder do movimento Mulheres Movem Feira; Carl Lima, vice-diretor do Colégio Estadual de Tempo Integral de Feira de Santana (CETIFS); Gutemberg Oldack, educador do Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand (CIEAC); e José Barreto Jr., pedagogo e jornalista atuante na Escola João Paulo I (JPI), também no município feirense. O evento foi realizado no CIEAC, na tarde da segunda-feira (28).
Mais sobre o professor português
Nascido no ano de 1951, em um cortiço na cidade do Porto, em Portugal, José Pacheco enfrentou preconceitos e venceu obstáculos. Primeiro eletricista e depois estudante de engenharia, foi na faculdade que uma professora disse ao hoje educador que ele tinha jeito para ensinar a crianças. E foi com avidez por novos conhecimentos e pela busca de novas formas de ensinar e aprender que, em 1970, José Pacheco ingressou no magistério.
Em 1976 ele fundou a Escola da Ponte, no distrito Vila das Aves, pertencente à cidade do Porto, que revolucionou as bases educacionais do século 20. Foi nessa instituição que o professor coordenou o projeto pedagógico Fazer a Ponte até 2004. Em seguida, José Pacheco mudou-se para o Brasil, onde está há vinte anos. Hoje o educador reside em Maricá, no estado do Rio de Janeiro. Especialista em Música e em Leitura e Escrita, além de Mestre em Ciências da Educação e Articulador das Comunidades de Aprendizagem, o professor tem dezenas de livros lançados.
Escola da Ponte
Integrante da rede pública portuguesa de Educação Básica, em 2026 a Escola da Ponte completa 50 anos de existência. Suas práticas pedagógicas se diferem das tradicionais. Nela não há salas de aula convencionais, divisão de alunos por séries e aulas expositivas, por exemplo. Em um amplo salão, onde há diversas fontes de conhecimento, como os livros, os estudantes se agrupam de forma autônoma e são estimulados pelos orientadores educacionais a trabalharem juntos em projetos de pesquisa.
Na Escola da Ponte, a avaliação não se baseia em notas e provas tradicionais, mas sim em um processo contínuo e formativo focado nos desenvolvimentos de competências e autonomia pelo aluno. Nela, o processo individual de cada estudante passa por três núcleos: iniciação, consolidação e aprofundamento. O real engajamento das famílias dos alunos também favorece o sucesso das práticas pedagógicas da instituição.
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