MOC está entre os protagonistas | Foto: Alan Suzart

O Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da ONU. Depois de anos de insegurança alimentar crescente, o país reduziu de 15,3% para 2,5% o percentual da população que passa fome, segundo dados recentes da FAO. A conquista é fruto da retomada de políticas públicas, do fortalecimento da agricultura familiar e da mobilização de organizações da sociedade civil, como o MOC, que atua há quase 55 anos no Semiárido baiano.


Se hoje há menos brasileiros com fome, é porque o campo resistiu. A produção de alimentos saudáveis, em pequena escala e com base agroecológica, foi fundamental para alimentar famílias, abastecer escolas, gerar renda e girar economias locais. A agricultura familiar, durante a pandemia e nos anos de desmonte das políticas públicas, manteve viva a chama da solidariedade, da produção sustentável e do direito à alimentação.


O MOC – Movimento de Organização Comunitária – é uma das organizações que fizeram e continuam fazendo a diferença. Nos territórios do Sisal, Bacia do Jacuípe e Portal do Sertão, o MOC coordena ações integradas que garantem comida no prato e dignidade às famílias rurais: doação de kits emergenciais, acesso ao PAA e ao PNAE, formação de lideranças, assessoria à produção agroecológica, fortalecimento de quintais produtivos e promoção da segurança alimentar e nutricional.


Segundo dados da equipe técnica, mais de 2.800 famílias têm sido atendidas por ações diretas ligadas à segurança alimentar nos últimos meses.


Em Nova Fátima, nesta semana, a entrega de cestas de alimentos com produtos da agricultura familiar, por meio do PAA, é exemplo concreto da política pública funcionando: agricultoras e agricultores locais produzem, vendem e alimentam outras famílias da comunidade. É alimento saudável, gerando renda, circulando no território e combatendo a fome.


“Celebrar, mas não esquecer quem ainda tem fome”


Para Naidison Quintella Baptista, fundador do MOC e militante histórico no enfrentamento à fome:


“Nós todos, sociedade civil e governo, nos dedicamos a essa tarefa e temos esse resultado. Temos que celebrar, temos que nos alegrar. No entanto, temos que olhar que ainda há 2,5% da população com fome. E esse percentual tem cor, tem sexo, tem localização. A fome está mais presente entre os negros, entre comunidades tradicionais, mulheres negras e no Norte e Nordeste. Nossa meta é segurança alimentar e nutricional para todas as pessoas.”


Na visão do MOC, é essencial que a população compreenda essa conquista como parte de um processo. Como reforça uma das lideranças da organização:


“O MOC tem a obrigação de produzir conteúdo formativo, que celebre as conquistas e também aponte os desafios. Esses 2,5% são uma média nacional. A fome continua enraizada nas áreas rurais, entre os mais pobres, os negros e as mulheres. Por isso, seguimos trabalhando.”


“Viva a agricultura familiar, viva a agroecologia, viva o povo brasileiro”


A coordenadora do Programa Água, Produção de Alimentos e Agroecologia (PAPAA) do MOC, Ana Glécia ressalta com entusiasmo o papel da produção agrícola no combate à fome:


“É uma alegria muito grande a agricultura familiar contribuindo para que a fome seja cada vez mais uma lembrança distante da nossa realidade e das nossas vidas. O MOC, ao longo dos seus quase 60 anos, se colocou sempre ao lado das pessoas que precisam acessar os direitos. Com suas ações — a ju partir das águas, da assistência técnica, da atuação nos territórios — contribuiu para que muitas famílias tivessem acesso a alimentos, à água de qualidade e à produção sustentável.”


Ela também celebra a força dos territórios:


“São homens e mulheres ressignificando a história de seus lugares, ampliando e diversificando a produção, ocupando feiras agroecológicas e ofertando alimentos com sabor, com riqueza e com valores culturais e ancestrais. Viva o Brasil, viva a agricultura familiar e viva a agroecologia.”


Agroecologia como resistência e solução


Os quintais produtivos acompanhados pelo MOC, o incentivo à criação de animais de pequeno porte, os sistemas de reutilização da água e a valorização dos saberes tradicionais fazem parte de um modelo de convivência com o Semiárido que vem se mostrando eficaz para garantir a soberania alimentar. A agroecologia, para essas comunidades, não é conceito: é prática diária de cuidado, plantio, transformação e partilha.

Ao apoiar diretamente a produção e o consumo local, o MOC contribui para que alimentos nutritivos cheguem às mesas, sem intermediários, sem desperdício, sem agrotóxicos — e com valorização da mão de obra local.


Fome nunca mais


A saída do Brasil do Mapa da Fome é uma conquista. Mas a luta está longe do fim. Como disse uma agricultora durante a entrega de alimentos em Nova Fátima:

“Hoje tem comida na mesa, mas a gente sabe que amanhã só vai ter se continuar lutando, se tiver projeto, se tiver governo do lado da gente e se o MOC continuar junto.”

O combate à fome passa pelo fortalecimento das mulheres do campo, pela presença do Estado com políticas públicas permanentes e pela valorização de quem planta. Com apoio do MOC e tantas outras organizações, a agricultura familiar mostra que pode, sim, alimentar o Brasil com justiça, com dignidade e com futuro.


Enviado por Dandara Barreto