O caso do jogador Taison ainda me incomoda.
Veja.
Ele sofre racismo.
Se desespera.
Chuta a bola na direção da torcida.
É expulso.
E ninguém faz nada.
No fim do jogo.
Todo mundo lamenta.
Se entristece.
E fim.
Será fim mesmo?
Você acha que essa dor nele vai passar rápido?
Você acha que isso não vai acontecer mais?
Tem certeza?
Vamos imaginar.
Uma situação hipotética, claro.
E se todos os jogadores sentassem no gramado?
E se todos jogares se negassem a continuar a partida?
E se todos jogadores fossem embora?
Até reconhecerem os racistas.
Seria justo?
Seria né.
Então.
Trago novidades.
Essa é uma atitude antirracista.
Mas não foi isso que aconteceu.
O jogo continuou.
Mesmo com todo mundo sabendo que aquilo era errado.
O jogo continuou.
Recentemente.
Um fotógrafo branco repetiu para mim.
Mais de vinte vezes.
Veja.
Sem eu pedir ao menos uma vez.
Ele repetiu para mim mais de vinte vezes.
Quanto tinha ganhado para fazer um job com agência x.
Essa mesma agência x.
Me contrata sempre para o mesmo trampo.
Exatamente para o mesmo trampo.
Mas resolveu pagar mais a ele.
E infelizmente.
Ele não estava blefando.
Era verdade o bilhete.
Foda né.
Mas dá para piorar.
Fui receber um cheque numa agência x.
E quando o rapaz do financeiro vinha na minha direção.
Foi abordado por uma pessoa no corredor.
Que indagou aonde ele ia com o cheque.
Ele disse que estava indo me pagar.
Quando a pessoa viu o valor, disse:
Mas esse é Wendy né.
Que fotografa preto?
Achei que ele fosse baratinho.
Só fotografa preto, po.
Dói né.
Mas olha.
Vamos imaginar de novo.
Situação hipotética, claro.
Dois jovens.
Um negro.
E o outro branco.
Estudam na mesma faculdade.
Conseguem o mesmo emprego.
Mesmo salário.
Legal né.
Mas ainda assim.
O branco vai se desenvolver.
E enriquecer.
Mais rápido que o negro.
Sabe por quê?
No caso do jovem branco.
É bem provável que ele seja só mais um na família a ascender financeiramente.
No caso do jovem negro não.
Na maior parte das vezes ele é o primeiro a ganhar dinheiro na família.
Com isso.
Ele carrega muito mais pessoas com ele.
Quer ver isso na prática?






Na faculdade.
O dinheiro do meu estágio era para minha alimentação.
Já o do meu coleguinha.
Branco.
Era para viajar.
Ele não tocava no salário.
Outro exemplo.
Recentemente
Minha madrinha.
Com fome.
Pegou dinheiro com agiota.
A dívida cresceu.
E eu tive que ir lá correndo pagar.
Para ela não morrer.
Um outro amigo.
Também negro.
Teve que ajudar uma tia distante.
Que estava endividada.
E desesperada.
Veja.
Se os familiares distantes.
Demandam.
Imagina os mais próximos.
É.
Nada fácil.
E isso acarreta outros problemas.
Com o tempo comecei a sentir culpa ao comprar algo para mim.
Lembro que a última vez que comprei um tênis.
Passei três dias péssimos.
Me perguntando se tinha feito a escolha certa.
Amigos tentavam me mostrar que estava tudo bem.
Que eu trabalho para isso.
Mas o sentimento de culpa transbordava.
Na minha cabeça.
Sempre acho que posso fazer algo por alguém.
Amor gerando paciência.
Paciência gerando amor.
Olha.
O processo do racismo no Brasil.
Sem sombra de dúvidas é um dos mais bem-sucedidos do planeta.
Ele mata.
Limita.
Adoece.
E no fim ele só é chamado de desigualdade social.
Inviabilizando o problema racial que a elite brasileira instaurou.
O racismo infelizmente é a que mais deu.
Dá.
E dará certa.
Racismo é a marca do Brasil.
E vai continuar sendo.
Quer ver um exemplo.
Vamos pensar em duas pessoas pobres.
Uma branca.
E outra preta.
Melhor.
Vamos falar de teatro.
Quantos atores incríveis.
Talentosos.
Surgiram no Nós do Morro?
Pensou?
Qual é o único que faz sucesso?
Que faz filme.
Novela das nove.
Canta.
Não quero nem discutir o talento dele.
Ou não talento.
Só pensa aí.
Sim.
Isso mesmo.
Thiago Martins.
BRANCO.
A branquitude é o maior crime organizado em atividade no país.
Achou essa frase pesada?
Então.
Já viu o documentário do filme Cidade de Deus?
Não viu?
Então vou te contar.
A maioria dos atores que atuaram no filme.
Eram moradores da favela.
No fim.
Os diretores.
Empresários.
Os senhores de engenho.
Perguntaram se eles queriam participação no lucro do filme.
Ou dez mil reais.
O que você acha que eles escolheram?
O que você acha?



Sim.
Eles escolheram dez mil reais.
Favelados.
Nunca viram esse dinheiro na vida.
Não faziam ideia do que era participação no filme.
Óbvio que escolheram dez mil reais.
E o filme.
Que rodou o mundo.
Gerou milhões e milhões em dinheiro.
Enriqueceu quem?
Pessoas brancas.
E sabe os atores?
Pretos.
Favelados.
Continuam pobres.
Pior.
Nem ascenderam na carreira.
Por que o racismo não deixou.
Um até virou Uber.
Escrevi muito né.
É que quando chega a semana da consciência negra.
Eu fico bem irritado.
Muitos convites inusitados.
Textos.
E falas.
Descabidas.
Um falso discurso de oportunidade.
A branquitude fingindo que se importa.
E a cabeça dá um nó.
Porque nada muda.
A gente vive uma colonização.
Não fomos.
Estamos colonizados!!!
Esse papo de fim da escravidão.
Nunca existiu.
Desde a Lei das Terras.
A branquitude sempre procurou meios de inviabilizar a nossa ascensão.
Então, olha.
Você negro.
Que chegou até aqui.
Depois desse textão.
Faça igual o Jay-Z.
Enriqueça.
Ganhe muito dinheiro.
Mesmo se tiver numa situação ruim.
Feche os olhos.
E se imagine grande lá na frente.
E coragem.
Faça acontecer.
Como Jay-Z diz.
Não use drogas perto da sua casa.
Perto dos seus familiares.
Não venda droga perto dos seus.
Estude.
Conheça a sua história.
Compre coisas de valor.
Casa.
Obra de arte.
Carro.
Prédios.
Transforme tudo.
Deixe legado.
Pessoas brancas odeiam ver a gente crescendo.
Ganhando dinheiro.
Sabe o boxeador Floyd Mayweather Jr?
Negro.
Bilionário.
Conhecido por ostentar sua riqueza nas redes sociais.
Teve que ouvir de um empresário branco.
O seguinte:
Você se acha rico né.
Mas quem assina o teu cheque sou eu.
Veja.
Em qualquer circunstância.
O branco vai ganhar mais.
E se algum momento ele puder.
Ele vai deixar claro isso para você.
Por isso.
Jay-Z criou sua própria empresa.
E vários artistas negros da música americana.
Fazem sua própria plataforma.
Não só para o dinheiro girar entre eles.
Mas para não depender de pessoas brancas.
Jovem!
Enriqueça.
Enriqueça muito.
Honre os seus.
É o que te peço.
E desejo.
Por que aqui no Brasil.
A maior facção criminosa.
É a branquitude.
E sabe quem vai preso?
Nós.



Indicado por Juliana Soares