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Nos tempos atuais, discutir as relações afetivas tem se tornado cada vez mais natural, seja de forma publica através dos sites de relacionamento e redes sociais ou de forma privada, para aqueles que buscam “alugar ouvidos”. Nesse sentido, refletir sobre as emoções e em especial sobre o sentimento “amor” é de extrema importância, sobretudo em tempos em que a fluidez dos sentimentos gira tão rápido quanto o consumo das idéias veiculadas pelo sistema neoliberal.
Sendo assim, é possível refletir: que definição dar a esse fenômeno que ocorre e “arrebata” corações? de que forma o homem moderno acomoda este sentimento em sua vida?
O homem enquanto ser faltoso, angustiado e consumido pela dor do existir, diante da carga moral e ética que ronda seus desejos, das quais precisa dar conta e reprimi-los, repousa leve na representação dada ao fenômeno do amor, a qual é influenciada facilmente pelos contos e “histórias de amor”. E assim, é possível sentir-se preenchido e mais perto da sensação de felicidade e plenitude.

Lacan, ilustre psicanalista francês, dirá que quando se trata do amor o que está em jogo é a suposição de um ser no outro. Iludido pela suposição do que existe no outro ser, o sujeito busca com o amor fazer signo, suspendendo, ainda que provisoriamente, o deslizamento infinito do desejo. Em outras palavras: o amante percebe a pessoa amada de forma idealizada, deixando provisoriamente, inclusive, de dar importância às diferenças entre ambos, o que corresponde ao amor descrito pelos poetas românticos.
Colocadas as balizas conceituais e (des)ilusórias quanto ao amor, tomemos como desafio a espinhosa tarefa de sentir-se satisfeito com o amor inventado e com a tarefa de delimitá-lo, nos tempos pós-modernos. O homem pós-moderno precisa reinventar-se a todo instante, frente aos apelos midiáticos e ideológicos capitalistas neoliberais. Cumpre a ele, então, se moldar à ideologia neoliberal e colocar-se como objeto, mesmo que inconscientemente, internalizando “as promessas de amor e felicidade” que o sistema veicula em propagandas comerciais, por exemplo.
Ao homem, esse ser prenhe de um vazio existencial, só resta entregar-se a esse “amor” e “relacionar-se” cada vez mais com computadores e pensar que se relaciona com pessoas. Troca-se a proximidade física por conversas ao telefone celular ou chats, que por instantes geram sentimentos de plenitude e companhia.
No entanto, consumir algo assim, exige tempo de dedicação e amor ao trabalho. E tempo é o que falta ao homem dos dias de hoje. É quase impossível ter tempo para aprender a Ser, assimilar e acomodar as novas definições e principalmente a definição dos sentimentos. Portanto, com a mesma fluidez de informações e ordens para “Ser” tem-se um Eu, que não se descobre e por isso não pode se dirigir a um objeto de desejo real (outro ser humano) ou, como preferem os mais românticos, não há tempo para viver um grande amor.
Néia Mattos
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