Everton Nery
Hoje acordei com o corpo inteiro pedindo trégua,
mas não sei mais onde começa o corpo
e termina o algoritmo que me dita os passos.
Tenho sono,
mas o mundo não dorme.
Tenho fome,
mas tudo vem pronto demais, raso demais.
Tenho desejo,
mas ele vem cronometrado, embalado,
Tudo parece ser postado.
O mal-estar não tem nome fixo,
ora é ansiedade sem causa,
ora é um silêncio que grita
mesmo no meio da multidão.
É uma insônia que não quer me contar
por que ainda estou acordado.
É esse cansaço de ser alguém
que nunca é o bastante,
a todo e qualquer instante.
Viro empresa de mim,
sou chefe e estagiário no mesmo turno,
e minha meta é não falhar em ser feliz.
Mas falho.
E nem sei mais se é falha ou só
a lucidez que escapa por entre as metas.
Vou seguindo por silhuetas retas e incertas.
Carrego um esgotamento antigo,
feito de injustiças herdadas
e lutas não remuneradas.
Não é só trabalho,
é a exaustão de provar, todo dia,
que posso estar aqui.
Ser quem sou.
Respirar sem pedir desculpas.
Estou envolvido em tantas lutas!
Descansar, talvez, seja
o gesto mais revolucionário
num mundo que se alimenta
da minha pressa.
Quero deitar e ter honestas conversas.
E se eu deitar agora,
com o peito aberto e os olhos fechados,
não será desistência,
será resistência.
Seremos, enfim, presença.
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