Everton Nery
A fé é um sopro,
leve como o que não se vê,
mas sustenta.
Ela não grita,
não julga,
não faz exigência.
Ela é compreensão, uma experiência.
Fé é confiança no que escapa,
no que não se pode medir,
nem dobrar.
É dança com o invisível,
abraço no mistério,
aceitação do que não tem nome,
E tampouco nos consome
Mas ensinaram que Deus é espelho,
e que esse espelho vigia.
Que para amar,
é preciso merecer.
Que o desejo tem que ajoelhar
antes de existir.
como se o amor só pudesse brotar
depois de se punir.
Roubaram a fé e a vestiram de uniforme.
Puseram nela a farda da obediência,
o tom de voz do controle,
a régua do comportamento.
e o medo disfarçado de reverência.
E aquele homem,
que só queria amar sem culpa,
passou a se odiar em silêncio.
Porque o que sente não cabe na doutrina.
Porque o Deus que lhe pregaram
não entende gozo,
nem corpo, nem sombra.
apenas a dor que se transforma em norma.
Sempre em algo que performa ou conforma.
Esse Deus tem olhos de juízo,
mãos de castigo,
língua de norma.
Não é o Deus do mistério,
é o Deus da performaticidade
É o deus da conformidade
Quanto mais se anula,
mais se acredita ser salvo.
Quanto mais sofre,
mais se acha estar perto do céu.
Mas esse céu tem grades.
E a oração às vezes,
trilha pela inautenticidade
Não cedendo lugar para a verdade
Entre obedecer e negar,
há um caminho mais estreito:
o da pergunta que não precisa resposta.
O da escuta que acolhe sem julgar.
O da fé que se faz sentida
mas também da pele que se faz ferida.
É nesse lugar que se cruza a travessia.
Nem cinismo,
nem submissão.
Só o desejo de existir
sem pedir desculpa.
De amar sem pecar.
De confiar,
mesmo com medo.
De ter fé, sem deixar de ser.
E assim, de forma autêntica viver!
0 Comentários
Comente aqui