O vidro, além de conservar o seu conteúdo, é um material 100% reciclável
Alaércio Nicoletti
Professor da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e gerente corporativo de Sustentabilidade e Melhoria Contínua do Grupo Petrópolis.
O
vidro é um material sólido, amorfo e pode ser utilizado nas mais
variadas aplicações como construção civil, indústria em geral, como nos
carros e nas embalagens, apresentando propriedades de conservação do seu
conteúdo
por ser impermeável, mau condutor térmico e não reagente. Além disso, o
vidro cumpre os requisitos sustentáveis por ser possível sua
reutilização e reciclagem sem perdas em massa.
Uma
embalagem de vidro, que pode ser facilmente moldada na sua fabricação,
assume ainda formas e tamanhos variados em sua fabricação, o que permite
criatividade na concepção de seu design. Talvez por isso e pelas suas
propriedades de conservação, sejam os contentores vítreos tão amplamente
utilizados na indústria de alimentos e bebidas.
Quando
o assunto é sustentabilidade, contudo, sua importância é fundamental
para a indústria de embalagens, visto que a mescla de cacos de vidro na
produção de novos produtos reduz o consumo de recursos naturais como
areia,
barrilha e calcário, além de reduzir o consumo de energia e,
consequentemente CO2, pois o caco já processado uma vez permite diminuir
a temperatura de fundição nos fornos.
Contudo,
é possível ser ainda mais sustentável ao retornarmos a um hábito
passado, a de utilização de embalagens retornáveis. Uma garrafa de
vidro, por exemplo, pode ser envasada mais de 20 vezes, sendo que
embalagens
produzidas na década de 1990 ainda são encontradas no mercado. Mesmo com
marcas externas de rolagem na fabricação, o líquido é preservado e
livre de contaminantes, assegurado pela correta limpeza interna e
externa nas linhas de produção. Um
hábito que era obrigatório até a década de 1970, quando surgiram as
primeiras latas, e foi gradualmente substituído pelo comodismo dos
consumidores, as garrafas de 300, 600 e 1.000 mL podem voltar à casa dos
consumidores, gerando apenas levar as
embalagens vazias para trocar no distribuidor, seja mercado, venda ou
qualquer local de compra. O custo é menor, o planeta e a sociedade
agradecem.
Mas
essa não é a solução única e desejável para nosso país, que apresenta
dimensões continentais e diferentes realidades e desafios como, por
exemplo, a dificuldade logística devido à distância entre ponto de
consumo e os
fabricantes e recicladores. Nesse caso, ao menos para as bebidas, as
latas e pets ainda são soluções viáveis, desde que retornem para os
recicladores.
A
dificuldade ainda é enorme na recuperação de resíduos sólidos urbanos,
visto que menos de 5% da massa das embalagens produzidas retornam para
processos produtivos. Apesar de a partir da década passada começarem as
regulações e acordos para fazerem valer a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos de 2010, o que culminou em leis nacionais intensificando essa
agenda.
Como
exemplo, os recém-publicados decretos federais 11.413 e 11.414, ambos
de 13 de fevereiro de 2023, estabelecem diretrizes para os créditos para
reciclagem de embalagens e, para a inclusão socioeconômica de catadoras
e
catadores, respectivamente. Ambos ampliam as leis existentes,
estabelecendo, inclusive, novas alternativas além do crédito de
logística reversa que fora oficializado no ano de 2022.
Iniciativa
em andamento na parceria de empresas com o SENAI/CNI, a iniciativa da
Circularidade do Vidro une empresas, instituições de pesquisa e
desenvolvimento e universidades do país, no propósito de recuperação e
reutilização das embalagens de vidro no território nacional. A
iniciativa, que trata exclusivamente das embalagens de vidro, mas está
alinhada com outras que visam a integração dos diversos atores do
ecossistema de produção e reciclagem, tem como
principais objetivos o aumento da utilização de embalagens retornáveis,
da captação do resíduo pós-consumo e da busca de soluções alternativas
para a reutilização do vidro em novos processos produtivos, quando a
logística inviabiliza o retorno
para as fábricas de embalagens.
A
mobilização da indústria, das instituições, da academia e da sociedade
faz-se necessária com o intuito de aumentar a captação desse material
que, apesar de representar somente 2,7% do total de resíduos sólidos
urbanos no
Brasil, corresponde a uma produção total de 980.000 toneladas por ano.
A
chamada recebeu 22 propostas, totalizando R$ 50 milhões em
investimentos com propostas de todas as regiões do país. As propostas
foram agrupadas em três grupos, sendo: (1) soluções inovadoras em novos
produtos a partir do
vidro; (2) aumento na captação do vidro a partir de plataformas,
equipamentos e serviços; (3) educação e treinamento para aumento da
conscientização sobre a reciclagem do vidro.
Nos próximos passos está a execução agrupando empresas e instituições, além de contar com fomentos governamentais. Essa é uma das iniciativas que visam proporcionar a coleta e a reciclagem dos materiais pós-consumo, contribuindo tanto para o ambiente quanto para a sociedade, bem como para o desenvolvimento sustentável da indústria brasileira.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Fonte: Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie
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