Bloco Afro Ilê Ayiê - Curuzu - Fotos: Adriel Francisco

O sábado (18) já é o terceiro dia oficial do Carnaval em Salvador, mas para o Ilê Aiyê, e para uma multidão que acompanha o mais antigo bloco afro da Bahia, é dia de pedir licença aos Orixás e abrir os caminhos para que a paz reine na folia.

Por isso, muita gente se apertou na estreita Ladeira do Curuzú, em frente ao Ilê Axé Jitolu, para participar do ritual de saída do Ilê Aiyê. O tradicional rufar dos tambores da banda Aiyê, além de banho de milho branco e pipoca e a soltura de pombas brancas, se repetem a cada sábado de Carnaval. O público ali acompanha e anseia por esse momento enquanto canta os clássicos do bloco, enquanto se integra aos pedidos de bênçãos.

                                                            Foto: Adriel Francisco


À frente da entidade, os filhos de Mãe Hilda Jitolu comandam todo ritual: a yalorixá Hildelice Benta, o presidente do bloco Antonio Carlos Vovô dos Santos e os diretores Vivaldo Benvindo e Dete Lima. Esta última é a artista plástica e estilista responsável pelo figurino do bloco e pelo turbante que adorna a cabeça da rainha do bloco.

Entre os presentes, os secretários estaduais Bruno Monteiro (Cultura), Angela Guimarães (Promoção da Igualdade Racial), Maurício Bacellar (Turismo) e Adélia Pinheiro (Educação) e o governador da Bahia Jerônimo Rodrigues, que se integrou à solenidade, soltando uma das pombas brancas, simbolizando os desejos de paz para o Carnaval.    

Homenageado é de Angola –
Este ano, o homenageado do bloco é escritor e político angolano Agostinho Neto, presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola, que faleceu 1979. Em 2023, o Ilê volta a falar de Angola, já que em 1984 o país africano, de língua portuguesa, foi o destaque no desfile do bloco. “Nos dez anos de Ilê Aiyê, falamos de Angola em geral e investimos muito na figura da rainha Nginga. Agora, homenageamos Agostinho Neto, pela luta dele, por ser um revolucionário, e sua história se parece muito com a nossa luta”, explica Vovô.   

Deusa do Ébano – Além de religioso, o ritual também serve para a apresentação oficial da Deusa do Ébano, escolhida para reinar no Carnaval e ao longo do ano nas atividades do bloco. Em 2023, o Ilê Aiyê será representado pela dançarina e coreógrafa Dalila Santos de Oliveira, de 20 anos. “Uma realização muito grande, uma vitória, depois de dois anos, a gente voltar com toda força para fazer o melhor dos melhores carnavais”, afirma emocionada a rainha do Ilê Aiyê, Dalila Santos.


Foto: Adriel Francisco

A chegada da rainha à sacada do Ilê Axé Jitolu é cheio de significados, por carregar em suas vestimentas e adereços símbolos referentes ao tema do ano e também à trajetória do bloco. “Essa arte das amarrações no corpo e na cabeça eu passo sempre para outras jovens mulheres para elas darem continuidade a essas criações e essas transformações que eu criei, juntamente com o Ilê e com os ensinamentos de Mãe Hilda. E assim será algo que ficará para sempre”, explica Dete Lima.

Desfile na Liberdade – Após o ritual realizado, com os pedidos enviados e os caminhos abertos pelo Sagrado, a multidão subiu a ladeira do Curuzu em direção à rua principal da Liberdade, para mais uma vez realizar um desfile de muita beleza, história e resistência. Este ano, com muitos motivos para ser ainda mais especial. “O desfile deste ano é muito forte. Além da homenagem ao centenário de Agostinho Neto no mesmo ano do centenário de Mãe Hilda tem os 30 anos da banda Erê, criada por ela. Após dois anos sem o rufar dos tambores, são muitas emoções”, destaca Vovô.

O desfile pela Avenida Lima e Silva, Circuito Mãe Hilda na Liberdade, passando pelas residências e pelo comércio da comunidade onde o Ilê Aiyê foi criado, há quase 50 anos, completa o ritual sagrado e torna a entidade pronta e fortalecida para desfilar na Avenida do Carnaval.

O bloco Ilê Aiyê desfila no Circuito Osmar (Campo Grande) na madrugada de sábado para domingo e na noite de segunda-feira, nesses dias pelo Programa Carnaval Ouro Negro 2023. Na terça, os tambores da banda Aiyê retornam a animar os foliões com a Pipoca do Ilê, de forma independente.   

Carnaval da Cultura – É o carnaval dos blocos afro, de samba, de reggae e dos afoxés, apoiados por meio do Edital Ouro Negro para desfilar nos três principais circuitos da folia: Batatinha, Dodô e Osmar. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval do Pelô, que abraça o carnaval de rua, microtrios e nanotrios, além de promover nos palcos grandes encontros musicais e variados ritmos numa ampla programação. Tem Afro, Reggae, Arrocha, Axé, Antigos Carnavais, Samba, Hip-hop e Guitarra Baiana, além de Orquestras e Bailes Infantis. E é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, Carnaval 2023 – “Um Carnaval em Cada Esquina”.