Questões relacionadas à educação inclusiva foram tema do
1º Simpósio de Inclusão em uma Perspectiva Educacional (Sinpe), realizado em
Feira de Santana, na sexta-feira (27/05) e no sábado (28/05). O evento atraiu
educadores locais e de outras cidades. A educadora feirense Celiane Guimarães
estava entre os participantes. “Muito rico o evento. Mesmo estando
constantemente na prática educativa, a troca de informações é muito valiosa,
principalmente nesse momento de tantas novas descobertas [provocadas pela
pandemia]”, declarou.
O educador José Nilton dos Santos percorreu cerca de 300
quilômetros e veio do município de Canudos para participar do Sinpe. “O tema ‘educação
inclusiva’ é muito importante. As escolas estão lidando cada vez mais com
situações como as de estudantes com autismo; a de tantos outros alunos ainda
sem diagnóstico; com pais em dificuldade de entenderem... assumirem que o filho
é pessoa com deficiência. Essa realidade nos afeta enquanto educadores. Por
isso, temos que mudá-la. O evento nos deu maior conscientização sobre o que
fazer e como mobilizar outras pessoas nessa transformação”, pontuou.
Ludmila Daltro, mãe atípica (como é designada a mulher cujo
filho não se enquadra no senso comum de ‘normalidade’) de João Daltro Melo, que
tem autismo e está no 6º ano da Escola João Paulo I (JPI), foi uma das
palestrantes do Sinpe. “Depois da família, a escola é recorte muito importante
na vida da pessoa. Ninguém escolhe ser mãe atípica, mas quando isso ocorre
estabelecemos a luta contra o preconceito”, disse.
A educadora Anna Virgínia, integrante da Saber
Consultoria e Formação, realizadora do evento em parceria com a JPI, escola referência
também em práticas inclusivas em Feira e região, frisou que instituições
educativas precisam acompanhar as mudanças. “Escola e sujeito social atuais são
diferentes dos de antes. Precisamos pegar bons exemplos e aplicar, o que é
possível, nas nossas escolas, seja ela pública ou particular ”, declarou. Diretora
JPI, Judinara Braz, palestrou no Sinpe. “Escola é para ver a pessoa [não
apenas sua deficiência]. Quando se fala em inclusão, se fala em trabalho,
planejamento. Lei é ordem, incluir é decisão. Ou encara como missão, ou não
existe inclusão”, pontuou.
Também palestrante, o neuropsicólogo Kleber Fialho destacou
danos provocados pelo excesso de virtualidade. “Criança que cresce fazendo uso
excessivo da virtualidade compromete sua capacidade de lidar com o diferente,
inclusive esse excesso faz com que ela tenha características de autista, a
exemplo do isolamento. É interessante haver proximidade entre escola e
profissionais de saúde”, disse, além de apresentar estudos da neurociência
relacionados à educação.
Cássia Braz, diretora JPI e palestrante, frisou que quem
trabalha respeito trabalho com tudo. “O mundo está muito intolerante. É privilégio
trabalhar com o diferente, pois na diferença crescemos muito. Se nos locais
onde ando não exercito meu olhar para o diferente, não consigo enxergar a
diferença dentro da escola. Inclusão é diferente de integração. No primeiro
caso, o aluno é integrado à escola e tem currículo adaptado à necessidade dele.
No segundo, o estudante é apenas inserido na escola”, acrescentou. O escritor
Tiago Aquino, autor de mais de 60 livros em educação e conhecido como Paçoca,
seu nome circense, veio diretamente de São Paulo para palestrar no evento. “O brincar
mostra como a pessoa se relaciona seu mundo próprio e com o diferente. O
cérebro gosta de brincar. Os comportamentos dos estudantes estão bastante
alterados por conta da pandemia. O professor é quem vai dar o equilíbrio para
que a escola seja vista pela criança como um ambiente seguro”, declarou.
Psicólogas especializadas na área educativa e atuantes no
Serviço de Orientação Educacional (SOE) da JPI, Luana Braz e Michelle Mariano apresentaram
casos de sucesso em educação inclusiva. “Logo no início da pandemia, escola e
famílias tiveram o receio em lidar com os recursos tecnológicos para as aulas
remotas, por exemplo. Mas depois, muitos dos estudantes que acompanhamos
desenvolveram autonomia e eles mesmos nos procuravam por mensagens para saberem
seus horários de atendimento”, contou Luana Braz.
Estudantes JPI acompanhados pelo SOE participaram da
apresentação das psicólogas. Yuri Mascarenhas, 9º ano, que está entre os que
desenvolveram autonomia, disse que fez várias atividades nos cadernos
(materiais específicos produzidos pela JPI). Também do 9º ano, Heitor Grillo
informou que fez provas reduzidas adaptadas (com menor número de questões,
porém enunciados iguais aos da aplicada à turma dele). Já Breno Pimentel, 6º
ano, pontuou que as aulas o ajudaram a ser a pessoa que ele é.
A educadora Gabriela Andrade relatou a necessidade de falar
de educação inclusiva na escola. “Temos que trazer o assunto ‘inclusão’ para o
cotidiano da escola e não falar sobre ele apenas quando a pessoa com
deficiência chega para estudar na unidade de ensino”, frisou, além de
acrescentar que a Educação Infantil é a gênese da sociedade inclusiva.
Especializado em direito educacional, o advogado Gustavo Nunes apresentou o histórico
da legislação que norteia a educação inclusiva, a exemplo da lei nº 13.146, que
instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência). “É necessário que a escola enxergue além da limitação
do estudante, é preciso também explorar as possibilidades dele. Inclusão só na
teoria é integração”, concluiu.
O evento contou ainda com as seguintes oficinas:
Adaptação Curricular e Avaliação no Processo de Inclusão, mediada pelas
psicopedagogas coordenadoras do Ensino Fundamental I na JPI, Karine Oliveira e
Eide Cairo; Acompanhante Terapêutico: Rede de Apoio Fundamental para Inclusão
Escolar, pela psicóloga e coordenadora de Inclusão da JPI, Francine Matos;
Psicomotricidade, pela psicomotricista Gabriela Andrade; e Ser e Conviver no
Processo de Inclusão Escolar, pela psicóloga e diretora JPI, Judinara Braz. As palestras
foram realizadas no espaço de eventos de uma churrascaria na sexta-feira (27).
As oficinas, na JPI, no sábado (28).
Fonte: Assessoria de Comunicação – Escola João Paulo I
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