Por Carlos Pires
Tem uma moça charmosa em outro grupo de Feira de Santana, a Cíntia
Portugal, que todo dia posta fragmentos de músicas dos velhos carnavais; e de
tanto ler, e responder às suas postagens, me peguei pensando nas micaretas
antigas de Feira, e me inspirei a voltar no tempo, relembrar coisas boas, e
escrever novamente...
A emoção me apanha de primeira no pé da Ladeira da Montanha, e me
acompanha da Praça Castro Alves até a Praça da Sé, por onde quer que eu ande,
até o Campo Grande. Pela Avenida Sete, confetes, serpentinas, velhos, meninos,
meninas todos os anos felizes! E a gente canta pra eles, e a gente toca pra
elas, de lá de suas marquises, de lá de suas janelas. Tem piedade São Pedro,
São Bento já me benzeu, todos os caminhos me ‘abriu’. Por isso agora eu vou,
sem medo eu vou com Deus, na trajetória do trio!
Minha mortalha foi feita de chitão colorido por minha tia Lilina, e o
que eu nem mensurava na época, era que aquela festa épica e lúdica, fosse se
transformar no gigante que é hoje. Mas fica aqui o meu desabafo, com o devido
respeito a rapaziada de hoje, mas a nossa velha e surrada micareta de Feira de
Santana já foi muito, mas muito melhor entre as décadas de 80 e 90. Depois
disso, mas uma vez com a devida “venia”, o modelo atual é profissional, enorme,
enfim, é tudo, menos prazeroso.
Quem é novo nunca vai saber o que era sair no Bloco Fetecê, bloco do
Caju, e eu não falo somente lá atrás quando nem existia os abadás. Falo do
depois mesmo! Saíamos nos blocos e em seguida íamos para os clubes brincar até
o amanhecer e só nos restava um pedacinho da manhã para descansar, porque à
tarde era para acordar, comer uma bobagem e cair no circuito; e por falar em
circuito da folia, teve um que passava na frente do FTC, e sabe-se Deus como,
entrava no Nordestino e Senhor dos Passos. A famosa briga de Missinho com o
restante do Chiclete, salvo maior juízo foi na esquina da Germiniano Costa com
Visconde do Rio Branco, quando o trio se preparava para entrar na Carlos Gomes.
Quem curte agora não vai imaginar o que era curtir atrás do Tapajós, a
emoção que dava ver Osmar e seu sorriso largo, tocando no trio com os filhos!
Alô André Macedo, meu brother! Um grande abraço! Alô Armando, meu amigo!
Regrave isso, por favor: “Recebi sua carta vinda d bico do pombo que era
correio. Fiel mensageiro o mundo voou ligeiro, sua mensagem de amor, luz, água,
ar e calor. Como resposta, no mesmo bico vai uma flor, filha evidente daquela
semente...”
As pessoas de hoje nem vendo vídeos, lendo artigos ou ouvindo histórias
dos coroas, mensurarão com qualquer tipo de exatidão o que era ir a um baile
com o Super Som Lordão, Chiclete com Banana, Asa de Águia, Traz os Montes,
Bamda Mel, Banda Reflexu’s (Criaram-se vários reinados, o Ponto de Imerinas
ficou consagrado. Rambozalama vetor saudável, Ivato cidade sagrada! A rainha
Ranavalona, destaca-se na vida e na mocidade. Majestosa negra, soberana da
sociedade...).
Certa vez o então Capitão Moacir Lima me convidou para conhecer os
bastidores do FTC numa dessas micaretas gigantes que ele promoveu. Uma das
atrações daquela noite era Pierre Onassis. Bebemos todas no camarim com Pierre
depois do show, e eu achei de leva-lo até a cerca para atender a alguns fãs!
PQP! Quase o cara foi rasgado ao meio. Precisou a segurança agir com energia...
No último ano do Bloco do Cajueiro, a convite do saudoso Miguel Mário
Amorim, fiquei dois dias curtindo ao som de Chiclete com Banana, e posso dizer
que foi a melhor micareta que eu já passei em Feira. Por pouco eu não casei
naquele ano...
Tudo era animado sem os picos de desigualdade e violência de hoje. Os
camarotes da Getúlio Vargas eram menos glamorosos, mas funcionavam com muita
alegria. O vai e vem de trios dava simetria quase perfeita ao circuito, e a
festa tinha contornos de um grande carnaval fora de época, e era bem comentada
fora da Bahia e às vezes fora do Brasil! Infelizmente, Feira de Santana nunca
explorou a festa como deveria ser explorada, com maior participação de
investimento privado. A prefeitura e algumas poucas vezes o Governo do Estado,
injetava uma grana e era um “Deus nos acuda” para honrar os compromissos!
Eu sou do tempo em que enchíamos o coração de emoção quando ouvíamos:
“Ah, que bom você chegou. Bem-vindo a Salvador, coração do Brasil! Vem, você
vai conhecer, a cidade de luz e prazer, correndo atrás do trio.... Vai
compreender que a baiano é um povo a mais de mil, ele tem Deus no seu coração e
o Diabo no quadril...! Músicas como essa, nunca mais...
Indo e voltando na história, quem é que vai me dizer que não sente
saudade de Luiz Caldas, Ademar e Banda Furta Cor cantando Frenesi (É quando o
toque do agogô, chama a galera pra dançar, ao som do rufar do tambor, um frevo
axé barbarizar...). Se eu for ficar aqui lembrando dos velhos e antigos
carnavais, digo, Micareta, vou ter que escrever 1001 páginas de puro
saudosismo, então, deixo essa tarefa para você escrever nos comentários, e se
possível, dizer pra todos, qual foi a sua melhor micareta, e o porquê...
Eu vou encerrando aqui de meu escritório na roça, ouvindo Chame Gente,
Tonho Matéria, Olodum, Timbalada e outras pérolas, aliás, já ouvi muito axé no
meio do Deserto de Mojave, no Atacama, na África e certa vez, eu pus Reflexu’s
cantando Senegal para uma turma entre o Saara Ocidental e a Mauritânia, que me
rendeu Ibope...rs
Falar da Micareta de Feira é reafirmar o que nós feirenses sabemos desde
sempre, que essa festa é 100% nossa, e que muito embora ela seja copiada
grosseiramente, ela é marca registrada da nossa cidade...
Esse ano, no período da micareta eu estarei em casa. Quero mostrar pra
turma do outro lado da América o que é Feira de Santana...
Eu sou CH@MP Brasil, moro no Mundo, mas nunca consigo esquecer minha
terra natal, Feira de Santana!
Meu Instagram: @champbrasil
Fonte: Memórias de Feira de Santana (faceboook)
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