A Rádia Cunhã faz parte do projeto Rede Pelas Mulheres Indígena (PMI), que tem como principal objetivo melhorar a realidade das mulheres indígenas do Nordeste do País. Acima, cacica Arian Pataxó dá entrevista à rádio (Fotos: Elisa Braga e Fernanda Martins) |
Desde que foi criada, em 2016, a radioweb Rádia Cunhã dá voz e protagonismo a mulheres indígenas. É por meio dela que promovem oficinas, denunciam violências, expõem preconceitos, falam sobre o seu dia a dia e elencam suas reivindicações. Na Semana da Mulher, a rádio lança uma série de programas inéditos sobre temas como saúde da mulher indígena, língua Pataxó, culinária e parto domiciliar. Os programas estão disponíveis on-line, no YouTube.
A Rádia Cunhã faz parte do projeto Rede Pelas Mulheres Indígena (PMI), idealizado pela ONG Thydêwá, parceira do Ministério da Cultura (MinC) desde 2004, quando tornou-se Ponto de Cultura. A PMI tem como principal objetivo melhorar a realidade das mulheres indígenas do Nordeste do País por meio da formação delas como agentes multiplicadoras de transformação social.
A cacica Arian Pataxó participou da criação da rádio. "Foi uma demanda de mulheres de oito Pontos de Cultura Indígenas", conta. "É importante para mostrar nosso trabalho, nossa vivência. É uma forma de outras comunidades e pessoas conhecerem nossa vida, nossas lutas", diz.
Entre 2017 e 2018, foram realizados 12 programas. A rádio conta com quase três mil audições no Soundcloud. Oito povos indígenas participam do projeto: Pataxó Barra Velha, Pataxó Hahahae, Pataxó Cumuruxatiba, Tupinambá (todos os quatro da Bahia), Pankararu (Pernambuco), Kariri Xoco, Karapoto (Alagoas) e Xokó (Sergipe).
Dificuldades e combate ao preconceito
Entre as dificuldades vividas pelas indígenas estão, por exemplo, questões ligadas a educação, demarcação de terra, preconceito e violência contra a mulher. "Dentro das nossas comunidades, a gente enfrenta muito o preconceito com pessoas de fora da comunidade por ser mulher, por estar na luta", lamenta Arian. "Acham que a mulher não pode avançar no trabalho, na tecnologia e que o homem tem mais capacidade."
Em relação à demarcação de terras, Arian enfatiza que é um ponto essencial para garantir saúde e educação. "Vivemos amedrontadas em relação à terra, sobre opressão de fora", diz. "Sabemos que a terra é nossa, nascemos aqui, tivemos filhos aqui, esta terra é nossa, somos pescadores originários, criados por nossos pais neste espaço. Sem a terra, não tem como ter boa educação ou saúde, não tem espaço", justifica.
Outras demandas referem-se à educação e à falta de água potável. "Nós não temos estrutura de escola com educação diferenciada, à qual temos direito por lei. Nossa indignação é com isso também, nosso direito está aí e não recebemos", conta. "A mulher indígena sofre como educadora e com sua saúde, com verminose, sem água potável", diz.
Presidente da Thydêwá, Sebastian Gerlic explica que a Rádia Cunhã trabalha especialmente pelo protagonismo das mulheres indígenas e permite chamar a atenção para assuntos reivindicados. Além disso, tornar o dia a dia das indígenas mais conhecido é também uma forma de combater o preconceito.
"O povo indígena é terrivelmente descriminado e excluído. A Rádia Cunhã dá voz a quem, nos últimos anos, teve menos possibilidades de expressão e de participação cidadã", comenta. "A Radia Cunhã vem apoiando esse diálogo transcultural que permite pensar novas relações sociais para um Brasil justo e digno para todos."
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