A cada início de um ano novo, sempre costumamos fazer o mesmíssimo exercício (quase que um ritual): pensar no que valeu a pena – e no que não valeu – no ano que passou! Na indústria fonográfica não costuma ser diferente. Então, como em qualquer ano, 2014 deixou bons lançamentos musicais (alguns excelentes, diga-se de passagem), outros nem tanto, e outros cuja inexistência não faria a menor falta.

Para começar, vou mencionar sete álbuns (sim, mais uma vez o “sete”: meu número “cabalístico”) “brazucas” que eu ouvi em 2014, e gostei. Vale mencionar o seguinte: a lista abaixo não segue uma ordem crescente (ou decrescente) de preferência; a escolha dos álbuns foi baseado em critérios pessoais e no que eu ouvi (certamente não consegui ouvir tudo o que eu gostaria de ter ouvido); antes que se questione: a tal Banda Malta (vencedora do “tal” SuperStar) e a outra tal Banda do Mar (aquela mesmo dos chatíssimos Marcelo Camelo e da Mallu Magalhães), duas das coisas mais insuportavelmente chatas (a redundância é proposital) a surgir na música brasileira nos últimos tempos, não estará na lista – nem jamais estaria (pelo menos não em uma lista elaborada por mim).

Enfim, eis a minha singela lista (críticas e sugestões, desde já são muito bem-vindas):


   


1. Titãs – Nheengatu: Desde o Titanomaquia, de 1993, que o grupo paulistano não lançava um disco que fizesse jus às suas origens punk e pós-punk. Nesse álbum, eles conseguem resgatar a sonoridade “crua” que os consagraram nos anos 80, com canções pesadas e curtas, riffs de guitarras raivosos e letras simples e de teor crítico. 






2. Silva – Vista Pro Mar: O cantor e multi-instrumentista capixaba Lúcio Silva de Souza ou, simplesmente, Silva, foi um dos artistas revelação da nova música brasileira no ano de 2012 com o lançamento de seu ótimo álbum de estreia Claridão, onde a música eletrônica, a musicalidade pop oitentista e sonoridades acústicas se mituravam sem receio. Nesse novo lançamento ele ousa ainda mais e, consequentemente, ficou ainda melhor.




3. Skank – Velocia: A receita desse já veterano grupo mineiro é simples: produzir músicas alto-astral, sem firulas, com sonoridade pop e acessível. A diferença é que as canções deles, embora com apelo comercial, são bem elaboradas e arranjadas, ao contrário de seus conterrâneos do Jota Quest (que têm lançado um álbum pior do que o outro). Nesse Velocia, eles confirmam a escala crescente de seus mais recentes lançamentos para cá.





4. Criolo – Convoque Seu Buda: O rapper paulistano Kleber Cavalcante Gomes (sim, esse é seu nome de batismo) têm se destacado dentro da cena recente do rap e da música brasileira em geral com dois ótimos lançamentos de estreia (Ainda Há Tempo, 2006; e Nó na Orelha, 2011) e parcerias inusitadas (incluindo Chico Buarque e Caetano Veloso). Nesse lançamento ele confirma seu talento, com um rap com incursões “emepebísticas” e letras muito bem elaboradas e engajadas.






5. Gilberto’s Samba – Gilberto Gil: Vez ou outra, ao longo de sua longuíssima carreira, Gil revisita em forma de canções algumas de suas influências musicais. Foi assim com Luíz Gonzaga e com Bob Marley, em dois álbuns sensacionais: o São João Vivo!, de 2001; e o Kaya N’Gan Daya, de 2002. Nesse lançamento, ele revisita a obra de João Gilberto (outro ídolo confesso seu) de maneira intimista e reverente: um deleite!






6. Russo Passapusso – Paraíso da Miragem: Esse camarada, oriundo de minha (e nossa) queridíssima Feira de Santana, é, para muitos, a grande revelação da música baiana de 2014, graças a esse ótimo álbum que marca sua estreia em carreira solo. Destacado no bom grupo Baiana System, ele já integrou vários outros projetos experimentais ao longo de seus 10 anos de carreira musical. Em Paraíso da Miragem, ele revisita e reinventa as suas origens e influências, misturando dub, reggae, samba, afoxé, música eletrônica e “o que vier pela frente”. Trata-se de um álbum belíssimo e ao mesmo tempo desconcertante.







7. Suricato – Sol-Te: Esse bom grupo carioca era, sem sombra de dúvida, a melhor banda a ter passado pelo Programa SuperStar, ao lado do Jamz. Mas é aquela velha história: quem vence não é o melhor e sim quem o público (em sua grande maioria, de gosto pra lá de duvidoso) escolhe. Não deu outra: venceu o chatíssimo grupo “poser” Malta, com suas canções xaropadas e cafonérrimas. O lado experimental revelado no referido programa (onde versões inusitadas de canções do Beatles e do Led Zeppelin chamaram atenção) ainda pode ser conferido no Sol-Te, porém aqui imperam canções com elementos acústicos, mais puxados para o folk, o que não necessariamente tira o mérito do trabalho. Trata-se de um álbum suave, com belas canções e arranjos bem articulados por músicos talentosíssimos!