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Embora eu seja um cara bem eclético quando a minhas apreciações musicais (e artísticas, em geral), devo admitir que possuo um apreço especial pelo rock n’roll, o som que me apresentou ao universo musical em geral. Se hoje eu respiro música, devo ao rock, com certeza. Por isso mesmo, eu tenho acompanhado a dinâmica da cena roqueira no Brasil e, especialmente na Bahia, a algum tempo e tenho descoberto muita coisa – muita coisa mesmo – boa.
Dentre essas minhas “novas descobertas”, eu gostaria aqui de destacar o trabalho da Banda Mendigos Blues, a qual eu acompanho desde 2008 (ano da formação do grupo, em Itabuna), quando eu morava em Ilhéus. Atualmente, os “mendigos” são: Jonnie Walker (vocais e guitarra), Ismerarock (guitarra e vocais), Marcelo Mendigo (baixo), Chucri (bateria) e Victor Brasileiro (piano).


Segundo informações oriundas do site oficial do grupo, a banda se originou “a partir de vários encontros etílicos e sonoros nas repúblicas universitárias da cidade de Itabuna” – história contada de maneira muito bem humorada na canção Mendigos Blues, um belíssimo e vigoroso blues – e “recebem bastante influência musical do Blues, do Rock setentista, Jazz, Soul e da música regional”. Toda essa amalgama sonora, de fato, é evidenciada ao longo das doze faixas de Repúblicas e Mutretas, primeiro álbum dos caras.
O bom e velho blues rock predomina ao longo do trabalho em ótimas faixas como a já mencionada Mendigos BluesLembranças de uma NoiteSubterrâneo do BluesDespedida e Jeep (que conta a história de um personagem real homônimo, que rondava as ruas de Ilhéus/Itabuna paramentado como um Jipe). Um toque de soul music é acrescentado em Chá de Caçola, com destaque para as guitarras suingadas de Jonnie Walker e de Ismerarock e o baixo pulsante de Marcelo Mendigo. As influências da musicalidade nordestina se fazem presentes na instrumental Candeeiro Entocado; na bela O Homem da São Francisco, um blues clássico no melhor estilo “Mississipi”, mas que também caberia muito bem sendo executado pelas violas de Xangai ou de Vital Farias; e até no “feeling” da bateria de Chucri em algumas das melhores faixas do álbum, especialmente nas mais puxadas para o blues. A influência do jazz aparece principalmente no piano de Victor Brasileiro, em faixas como a já mencionada Lembrança de uma Noite. O Repúblicas e Mutretas pode ser conferido na íntegra, aqui mesmo.


Apesar de bastante jovem ainda, eles já participaram de vários projetos no eixo alternativo, como o “Noites Fora do Eixo” com atuação em cidades como Feira de Santana (BA) e Patos de Minas (MG). Recentemente, os caras produziram um documentário chamado República dos Mendigos (links abaixo), onde eles contam a trajetória da banda dentro do cenário alternativo do interior da Bahia. As memórias protagonizadas por eles e por pessoas que o acompanham desde o início de sua trajetória revelam uma história de persistência de dentro de um contexto onde o eixo underground ainda se faz uma via quase que obrigatória para a descoberta de novos “mendigos” da boa música.




No mais, resta-me desejar boas vibrações e perseverança aos caras, e que a energia do primeiro álbum se perpetue nos trabalhos seguintes. Eu, particularmente, não vejo a hora deles voltarem a se apresentar aqui em Feira de Santana. Segue, abaixo, um pequeno aperitivo da performance dos “mendigos” ao vivo.




 Henrique Magalhães
Biólogo, professor, pesquisador e colecionador de discos de vinil