Uma vez que se aproxima o período das festas juninas, especialmente aqui no nosso querido Nordeste brasileiro, um gênero musical tipicamente popular fica um pouco mais em evidência em relação ao restante do ano: o forró. Dentre as inúmeras histórias e estórias para a origem da nomenclatura do termo “forró”, a que parece ser mais aceita é de que este seja oriundo de uma derivação da expressão inglesa for all. Conta-se que os ingleses quando chegaram ao Nordeste, promoviam festas regadas a bebidas, danças e muita música e divulgavam que a festa era for all, ou seja, “para todos”. Como os nativos não conseguiam pronunciar a expressão em inglês, pronunciavam “forró”, e daí ficou.
Forró é um termo genérico,
constituindo uma junção de vários outros gêneros de raízes populares,
especialmente oriundos do sertão nordestino, como o coco, a embolada, o samba
de roda e a ciranda, e possuindo vertentes como o xaxado, o xote e o baião.
Partindo-se exatamente do princípio da evidência que esse gênero da música popular ganha no período junino, julguei pertinente selecionar alguns álbuns que eu considero essenciais para quem deseja conhecer ou se aprofundar um pouco mais desse universo riquíssimo chamado forró. Antes que alguém questione a ausência de algum ou alguns outros álbuns, eu deixo evidente que os materiais selecionados abaixo expressam um ponto de vista pessoal, que não só podem como devem ser questionados.
Evidentemente, você não
irá encontrar nada referente ao “forró de plástico” – essas coisas que a mídia
insiste em empurrar ao público “goela adentro” como se fosse forró propriamente
dito – como Calcinha Preta e Aviões do Forró, dentre outras. No mais, vamos ao
que interessa:
Luíz
Gonzaga – 50 Anos de Chão (1996)
O
“Mestre Lua” ou “Rei do Baião”, como ainda hoje é conhecido, possui uma
discografia muito extensa e uma vez que toda ela é considerada essencial – uma
vez que toda a popularização e expansão do movimento começou a partir dele –
resolvi selecionar a maior coletânea acerca da obra do artista já lançada. O
referido álbum foi lançado em 1996, em formato de LP (5 discos, no total); e em
2004, em formato de CD (3 discos). Abaixo, segue uma pequena amostra do que vocês irão encontrar.
Jackson
do Pandeiro – Jackson do Pandeiro (1955)
Juntamente
com Luíz Gonzaga, esse músico popular paraibano foi um dos grandes responsáveis
pela expansão e popularização da música popular nordestina no Brasil. Em sua
música, é possível perceber uma sonoridade riquíssima em elementos da cultura
popular como o coco, o samba de roda e o maracatu. O álbum selecionado é o
primeiro de sua carreira e abaixo segue o link de uma canção desse disco, que
veio a se tornar conhecida também na interpretação de diversos outros(as)
artistas como Elba Ramalho e Gal Costa.
Dominguinhos
– Fim de Festa (1964)
Esse
exímio acordeonista, intérprete e compositor pernambucano, faleceu em julho de
2013, deixando um extenso legado musical que abrange não somente o forró, como
também a música popular brasileira como um todo. Discípulo direto de Luíz
Gonzaga, Dominguinhos expandiu sua técnica musical para diversos outros gêneros
além do forró, como o samba e o jazz. Antes de estourar com o álbum selecionado
acima, o primeiro de sua carreira solo, atuou como músico de apoio de outros
artistas como Gal Costa e integrou a primeira formação do Trio Nordestino,
entre os anos de 1957 e 1959.
Trio
Nordestino – Baú do Trio Nordestino (2003)
Esse
grupo, apesar do nome, foi formado no Rio de Janeiro em 1957 – embora só se
consolidem como banda em 1958, quando chegaram a Salvador – por músicos que se
separaram da banda que acompanhavam Luíz Gonzaga. Apesar do “divórcio”, a então
nova banda foi formada com a benção do “Rei do Baião”. Ainda em atividade desde
a sua formação – o primeiro álbum, o Chupando
Gelo, só sairia em 1963 – o grupo já foi composto por inúmeras formações,
sendo a atual: Luiz Mário – triângulo e voz (filho de
Lindú, um dos fundadores do grupo); Coroneto – zabumba (neto de Coroné, também
fundador da banda) e Beto Sousa – sanfoneiro (afilhado de Lindú). O álbum
selecionado é uma coletânea gravada ainda com Coroné na zabumba, e é constuida
por releituras de grande sucessos do grupo.
Marinês
e Sua Gente – Vamos Xaxar (1957)
Para
finalizar a minha relação, nada mais pertinente do que citar o primeiro álbum
daquela que foi uma das primeiras mulheres a fazerem sucesso cantando forró, um
gênero até então marcado por vozes masculinas. Marinês é o nome artístico de
Inês Caetano de Oliveira, e formou sua primeira banda, a Patrulha de Choque do
Rei do Baião, juntamente com o sanfoneiro (e marido) Abdias e o zabumbeiro
Cacau, a fim de se apresentarem nos shows de abertura de Luíz Gonzaga. A
primeira canção dela a estourar foi exatamente a disponililizada abaixo, que
causou alguma polêmica na época devido a letra de duplo sentido.
Henrique Magalhães
Biólogo, professor, pesquisador e
colecionador de discos de vinil
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