A
autêntica música junina, lastreada no velho e autêntico forró pé-de-serra, ou
mesmo forró tradicional, não conta mais nem com a sala de reboco, com o grande
salão e muito menos com a sanfona e o zabumba.
O mês de Junho é o momento
da fusão entre o tradicional e suas recriações. A cada ano as antigas tradições
são reinventadas e vivenciadas também por gerações cada vez mais novas. O que
antes era marchinha, agora é sertanejo. No lugar do quentão, a cerveja.
Símbolos religiosos, esses se misturam e pouco a pouco, a manifestação cultural
descendente dos portugueses e adaptada pelo nordeste brasileiro, vem ganhando
novos significados, hábitos e costumes.
Diante disso, a expressão
São João na roça, tão comum para indicar o autêntico e tradicional festejo
junino nas distâncias interioranas, já não serve mais para tal finalidade.
Agora tudo mudou, os valores foram invertidos e as comemorações ganharam
características bem diferentes.
Acompanhando os festejos
juninos deste ano e conversando com amigos que comemoram a data em lugares
distintos, pude perceber a mudança. Primeiro, as comemorações não são as mesmas
de tempos atrás, porque como sabemos a vida, a cultura, não é parada no tempo,
ela é dinâmica. Sendo assim, porque as festividades juninas não poderiam ter
suas mudanças?
A cada ano surgem novos ritmos, numa mistura
de axé, sertanejo e modismos de duplo sentido. O arrocha ganha destaque na
versão Universitária, Forrócha e Genérica. Quem tiver um tempinho e quiser
conferir, basta pesquisar na internet os festejos juninos dos municípios do
norte e nordeste, e logo perceberá que praticamente não há mais o autêntico
forrozeiro com sua sanfona e muito menos um nome atual reconhecido no cenário
nordestino. Pelo contrário, encontrará programações que são as mesmas de uma
micareta ou de um carnaval. Isso em pleno São João.
Sei que ninguém é obrigado a
mudar seus gostos musicais ou ter de passar a apreciar as preferências, os
costumes e as tradições de outros tempos, já que cada época possui sua própria
feição e nela se mira a modernidade de então, principalmente os mais jovens.
Também, não pretendo ser
nostálgica, e muito menos ofender aos adeptos dos novos ritmos. Apenas, penso
que ao se optar por transformar o São João em uma balada com bandas e grupos
musicais voltados apenas para os mais jovens, estaremos perdendo as tradições
típicas da época pelos modismos atuais, o que seria culturalmente
injustificável.
É preciso rever a questão, e
buscar a qualidade artística e cultural da programação organizada para as
festas juninas nas diversas regiões do País, com muito debate e reflexão com a
participação de todos os segmentos envolvidos, com políticas públicas que
disciplinem a qualidade da programação traçada para essas atividades.
Com toda essa mudança, com certeza, o grande
Luiz Gonzaga, no seu repouso eterno, deve estar dizendo: "Acorda, povo,
que São João chegou!". Acorda "sanfoneiro macho", desperta
"assum preto", e vem cantar sob o "luar do sertão".
Por
Carina Góes
#SocializandocomCarinaGóes
0 Comentários
Comente aqui