Ano
vem, ano passa é o mais famoso carnaval fora de época do Brasil, a exemplo do
carnaval de Salvador, vem perdendo progressivamente sua identidade de festa
popular e se configurando em um evento marcado pela lógica de mercado: paga
quem pode; quem não pode, contenta-se com o “que sobra”. Eis uma realidade que
não parece disposta a mudar, pelo menos nos próximos “200 anos”.
Mas,
enfim, o que eu vi e ouvi em mais um ano de Micareta de Feira, um evento que
marcou inúmeras gerações de décadas e mais décadas e ajudou, lá atrás, a
consolidar carreiras de artistas que ainda hoje são sucesso absoluto de
público, como o Chiclete com Banana, Cheiro de Amor e Daniela Mercury (alguém
aí lembra da Companhia Clic?), por exemplo? Diante de inúmeras indagações de
amigos(as) e/ou leitores(as), deixo abaixo algumas impressões pessoais – vale
ressaltar que relatarei tão somente o que eu vi e ouvi, de fato.
O
que eu vi?
Vi uma festa desorganizada – talvez a mais “bagunçada” versão do evento que eu já tenha presenciado – por uma logística engessada, excessivamente burocrática e que previlegia a lógica do mercado ao invés do bem-estar e da segurança do povo. Percebi que, de fato, o circuito Maneca Ferreira, (na avenida Presidente Dutra), está defasado e não comporta mais a estrutura de uma festa que se propõe a ter a Micareta de Feira. Foi, no mínimo, curioso constatar camarotes particulares – com megaestruturas e atrações “de peso” – vazios e trios muito próximos uns dos outros em muitos momentos, causando uma sobreposição de sons que soava quase “infernal” em diversas ocasiões. Ou seja, faltou preparo técnico e logístico. Em suma, infelizmente não tenho muita coisa positiva para relatar acerca do que eu vi.
O
que eu ouvi?
Primeiramente,
quero destacar a participação da nova geração de artistas de Feira de Santana,
que demonstraram apresentar todos os atributos para “estourarem” lá na frente,
seja em apresentações solos ou em “dobradinhas” com artistas famosos(as) destaco
aqui a minha amiga Talitha Costa, que brilhou tanto sozinha (eu tive a honra de
acompanhá-la bem de perto na quinta-feira) como na dobradinha com Cláudia
Leitte (vídeos abaixo); além de Sarah Reis, destacando sua dobradinha com a
talentosa, linda e carismática Mari Antunes e o Babado Novo; e a já experiente
Luciana Alves, que agitou com seu som mais próximo do sertanejo eletrônico,
muito carisma e uma dobradinha com a bela Alinne Rosa – ex-Cheiro de Amor
(vídeo abaixo).
Merece
destaque também algumas estréias. Algumas delas causaram impressões boas, não
tão boas e, por vezes, até ambíguas. O Chiclete com Banana estrou na festa com
nova formação e até que não fez feio ao vivo: com uma banda surpreendentemente
entrosada e um Rafa Chaves empolgado, o grupo executou sua nova canção de
trabalho, Vida que Segue (vídeo
abaixo), e antigos sucessos – alguns bem antigos, como Mistério das Estrelas, do álbum Energia,
de 1984. O público, por sua vez, deu a entender que ainda não “digeriu”
completamente o “novo” Chiclete, e não o acompanharam em massa como nos anos
anteriores. Bell Marques – recém-egresso do referido Chiclete com Banana – por suas
vez, tentou repaginar velhas canções com arranjos novos que incluiam
violoncelos e violinos (vídeo abaixo).
O
público, por sua vez recebeu bem a novidade, porém de maneira “morna”, uma vez
que tudo que é novo causa desconfiança a primeira vista. Vina Calmon, a frente
da Cheiro de Amor, fez uma boa estréia, combinando beleza, carisma e um repertório
repleto de hits (vídeo abaixo). Alinne Rosa também “mandou ver” em sua estréia
solo na festa (vídeo abaixo). Felipe Pezonni com a Banda Eva, por sua vez,
estreou de maneira morna na Micareta de Feira e não demonstrou a mesma força
que ele esbanjou em sua estréia no carnaval de Salvador (vídeo abaixo). No
mais, sem grandes novidades: o “cacique” Carlinhos Brown, Daniela Mercury e
Saulo demonstraram a mesma força e carisma de sempre, em apresentações
avassaladoras, e Mari Antunes com o Babado Novo mostrou o porquê de está sendo
considerada uma das novas sensações da música baiana (vídeo abaixo).
No
mais, fica a sensação de uma festa “inacabada”, onde falta um espaço
verdadeiramente democrático e popular, uma infra-estrutura que venha a
contemplar toda a grandeza que a festa se propõe a ser e uma logística onde
artistas da nova geração (especialmente, os artistas locais) possam desfrutar
de uma maior visibilidade e atenção. Que um futuro próximo nos surpreenda,
positivamente, é claro!
Henrique
Magalhães
Biólogo,
professor, pesquisador e colecionador de discos de vinil
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