Mais um carnaval se foi e com ele ficaram impressões diversas. Algumas delas já eram esperadas, positiva ou negativamente, mas também aconteceram surpresas (boas e más também). Aqui, eu vou explanar apenas alguns pontos de vista pessoais, de maneira aleatória, que talvez sejam o de muitos dos leitores que hão de consumir essas mal traçadas linhas. Então, vamos lá!

Primeiramente, não poderia deixar de mencionar o papel vergonhoso da polícia na “caça” aos “meliantes” que não estavam comercializando cervejas nem tipo algum de bebida cuja marca não fossem associadas aos patrocinadores oficiais do evento. A polícia estava mais preocupada em perseguir quem estava trabalhando do em combater a violência em si. Aliás, os meliantes propriamente ditos fizeram a festa nesse contexto. Não vou entrar no mérito da discussão do fato de o carnaval já estar desvirtuado de seu sentido original de festa popular e ter se tornado literalmente uma festa de mercado. Isso é um fato! Tristes daqueles que como eu e tantos(as) outros(as) apreciam a música como arte e não somente como entretenimento para gente de alto poder aquisitivo. Uma pena!


Em relação às estreias, algumas evidências foram constatadas e houveram também gratas surpresas. A ótima estréia de Saulo Fernandes (agora, apenas Saulo) em carreira solo, após o lançamento de um álbum que concorre entre os melhores lançamentos fonográficos da música baiana em 2013, já era mais que esperada para quem já o acompanha há algum tempo. Carisma, boa técnica, ótima banda de apoio e excelente repertório não faltaram a ele em momento algum (vídeo abaixo). O primeiro ano de Felipe Pezzoni à frente da Banda Eva também apresentou saldo positivo. Tudo bem que no primeiro dia ainda se evidenciou um certo nervosismo no cara – também não é para menos, carregar o legado de um grupo o qual, entre formações para o bloco e a banda e para somente a banda já teve à frente: Jota Morbeck, Marcionílio, Carlinhos Caldas, Luiz Caldas, Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Durval Lelys, Ivete Sangalo, Emanuelle Araújo e Saulo Fernandes não é fácil. Porém, aos poucos ele foi “se soltando” e esbanjando carisma, boa técnica e bom repertório, além de ser plasticamente bonito – imagem vende muito no show bizz, isso é inegável (vídeo abaixo). Ressalto também a estréia solo de um cara jovem e talentoso chamado João Pípolo, ou apenas Pípolo, uma promessa de renovação dentro de um sistema ainda engessado chamado axé music, com direito a um momento de participação especial da minha amiga a cantora Talitha Costa interpretando uma versão de Someone Like You, da diva britânica Adele, em pegada de samba-reggae. 



O que escrever acerca das despedidas – algumas que, por sinal, já vão bem tarde? Bell Marques deixa o Chiclete com Banana depois 33 anos no grupo (28 anos a frente, como vocalista), saída regada a uma série de controvérsias envolvendo guerras de egos e muita grana. O que se esperar daí em diante? A banda terá a missão de se renovar musicalmente com a nova formação (incluindo o novo vocalista Rafa Chaves, ex-Via Circular) e, consequentemente, conquistar novos fãs, uma vez que a identidade musical do Chiclete com Banana original continuará com Bell Marques (vídeos abaixo). Alinne Rosa se despediu da Banda Cheiro de Amor e segue carreira solo a partir de então (vídeo abaixo). Ela é linda, carismática e talentosa, além de ter muita gente importante a apoiando nessa nova fase da carreira dela: tem tudo para decolar. Quanto ao Cheiro de agora em diante: será o “mais do mesmo”. Se a nova vocalista Vina Calmon tiver competência para fazer o nome dela, construir a identidade dela dentro da banda e estabelecer uma boa “teia de contatos” e logo a seguir “cair fora”, será um grande negócio para ela. Quanto a Léo Santanna: sinceramente, não vislumbro um futuro interessante para ele. O tipo de música que ele faz é “descartável”, produz hits instantâneos e que facilmente se dispersam (alguém aí lembra do tal de Rebolation?). Além do mais, ele não possui talento técnico e seu carisma é tão natural quanto gelatina de isopor. Quanto ao tal de Parangolé: “ah, deixa para lá!”.




Para finalizar, algumas evidências gerais merecem ser mencionadas. Daniela Mercury continua merecendo o título de “a diva” e “rainha” da axé music, sempre levando inovações para o trio elétrico. Para quem aprecia a música axé enquanto arte – e não somente como um mero empreendimento – ela ainda se faz uma artista necessária. Claudia Leitte, a suposta (para não dizer fake) “nêga loira”, continua dando um “tiro fora do alvo” atrás do outro, demonstrando que ainda falta nela uma identidade artística e, principalmente, musical. A bola da vez esse ano foi a tentativa frustrada de “enfiar goela abaixo” à avenida o Rio de Janeiro: definitivamente, trazer Valesca Popozuda e o seu detestável “beijinho no ombro” e a escola de samba Mangueira foi a “gota d’água” (vídeo abaixo)! Ivete Sangalo continua a mesma de sempre: autêntica, desbocada, talentosa e carismática. A mesma velha e bem-sucedida fórmula: simples assim! Outra jovem revelação da axé music, Mari Antunes, em seu segundo ano a frente da banda Babado Novo, também esbanjou simpatia beleza e talento, com direito a indicações para concorrer a cantora revelação da festa, sendo contemplada, até o fechamento desse texto, com troféu Dodô & Osmar.  (vídeo abaixo).





No mais: esperemos que as impressões acima se cumpram (ou não) e que novas apareçam!   


   
 
Henrique Magalhães
Biólogo, professor, poeta, pesquisador e colecionador de discos de vinil.