A
música brasileira vive um momento um tanto quanto contraditório: ao mesmo tempo
em que muitas boas produções andam acontecendo por aí, embora muito mal
divulgadas e incentivadas (me proponho a escrever algo a respeito algum dia);
muita “coisa” ruim tem acontecido com a benção de nossa mídia (os “sertanejos”
modernos que o digam). Não dá para se apegar a aquele discurso nostálgico, tipo
“ah, não se faz mais música como antigamente”. Basta deixar o comodismo de
lado, pesquisar (a internet está aí para nos auxiliar) e mergulhar.
Pois
bem: à medida que uma nova geração de gente talentosa surge e caminha
bravamente, muitas vezes de forma independente (minha querida Feira de Santana
que o diga), artistas da velha guarda da música brasileira “ressurgem” em novos
trabalhos, absorvendo novas influências ao mesmo tempo em que influenciam a
nova geração, a exemplo de artistas como Guilherme Arantes. Em seu novo álbum,
o ótimo Condição Humana, o 22º de sua
carreira e o primeiro a ser lançado independentemente pela sua própria
gravadora, a Coaxo de Sapo, o artista
renova musicalmente seu repertório, à medida que revisita a sonoridade que o
consagrou no final da década dos anos 70. Abaixo, na íntegra, o referido álbum.
Contando
com uma banda de apoio experiente e competentíssima, com destaque para a
guitarra de Luíz Sérgio Carlini (fundador do Tutti-Frutti, juntamente com Rita
Lee, nos anos 70) e o baixo de Willy Werdaguer (que tocou com os Secos e
Molhados, também na década de 70), Guilherme Arantes consegue provar em grande
estilo que “envelhecer” está longe de significar “estar ultrapassado”. Aliás,
seu som está mais atual do que nunca, levando-se em consideração também que
muito do que se é produzido de bom atualmente, inevitavelmente bebe na fonte da
boa e velha geração, a exemplo do talentoso Marcelo Jeneci, que participa do
disco na embalada O que se leva (temor ao
tempo).
A
sonoridade do Moto Perpétuo, banda de rock progressivo no qual Guilherme
iniciou sua carreira como vocalista e tecladista no início dos anos 70
(observar video abaixo), é revisitada em faixas como Condição humana e Moldura do
quadro roubado. Essa experiência já havia sido adotada em outros momentos
de sua carreira, como em 1992, com a excepcional Taça de Veneno (quem não lembra aí da vilã Elvira, interpretada
magistralmente pela sempre maravilhosa Marieta Severo, na novela global Deus nos Acuda?).
A musicalidade pop romântica que o consagrou na carreira solo, ainda nos anos 70, também não é esquecida, o que pode ser evidenciada em faixas como Oceano de amor e Você em mim. A sonoridade ímpar de seu piano pode ser “degustada” de forma sutil e suave na belíssima Castelo do reino, uma canção ideal para ser escutada com uma boa companhia ao lado, saboreando um bom e velho Carbenet Sauvignon.
Em
suma, trata-se de um trabalho obrigatório para quem ama a boa e velha música
brasileira, mas faz questão de não deixar de se abrir ao que há de bom na
pós-modernidade musical. Para quem achava que a boa música brasileira tinha
parado no tempo, o Condição Humana é
uma resposta em grande estilo. A todas e a todos, uma excelente audição!
Henrique
Magalhães
Biólogo, professor, pesquisador e
colecionador de discos de vinil.


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