A partir desta proposição linguística as narrativas pessoais e culturais organizam a experiência na maior proximidade possível, dando origem a um mundo que consideramos íntimo e que sustenta nossas trocas com um mundo considerado exterior. É nesta perspectiva que procuraremos situar de que forma o sujeito construído a partir de uma identificação social, imerso pelos sentidos simbólicos que constroem a realidade, se relaciona com o eu (id) inconsciente freudiano. A pesquisa nos variados campos culturalistas se direcionam a uma revisão desta noção de ‘eu’ e apontam para a perspectiva de um sujeito que constrói e se constrói nas interações com o mundo (os outros), através da poderosa mediação da linguagem. O ‘eu’ passou então a ser buscado nas concepções que cada um é capaz de fazer de ‘si-mesmo’.
Por algum tempo, mesmo entendido como conceito, a perspectiva de um sujeito nuclear, fixado em uma consciência privada/privatista prevaleceu. A busca pela identidade substituiu o anseio das personalidades. Podemos entender o ‘si-mesmo’ sob uma dupla condição: a de um ‘si-mesmo’ estendido, incorporando nossa família, amigos, posses...; ou, como nas inteligíveis palavras de Markus e Nurius, citadas por Bruner (2001): “somos uma colônia de Possíveis si-mesmos, incluindo alguns que são temidos e alguns que são desejados, todos se acotovelando para tomar posse de um si-mesmo que corresponda ao momento que vivemos.”.
Portanto, associando os conceitos freudianos sobre as instâncias psíquicas e associando-as às negociações dos variados lugares sociais é que situamos a subjetivação como processo. Já muito longe do sujeito abstrato (dos universalismos epistemológicos), a subjetividade se produz na possibilidade do animal humano ser, em muitas circunstâncias, solicitado a tornar-se sujeito (Badiou).
Néia Mattos.
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