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Charles Albert em homenagem ao Carnaval (Acervo MRA) |
Autor do livro “31 Anos de Micareta”, o jornalista
e historiador Helder Alencar lembra que em tempos idos existia Carnaval em
Feira de Santana, ainda com a denominação de Entrudo. O advento da nova rodovia
Feira-Salvador contribuiu para o declínio da festa carnavalesca na cidade, pois
com as facilidades de locomoção por conta da rodovia, os foliões passaram a
optar pelo Carnaval da capital. Foi assim, e graças aos artigos do jornalista
Antônio Garcia, que a folia em Feira mudou de nome e data, nascendo a Micareta
de Abril, a maior do Brasil. Vale a pena ler o artigo de Helder Alencar.
(Adilson Simas)
Hélder Alencar
São antigas, muito antigas mesmos, as festas de Momo na Feira de Santana. Elas datam de quando o carnaval ainda era a festa, denominada de Entrudo, festa que precedeu no Brasil, como em Portugal, aos grandes festejos carnavalescos.
Diz Luiz Câmara Cascudo, inegavelmente, o maior
folclorista brasileiro, no seu “Dicionário de Folclore Brasileiro”, que o
“entrudo brutal e alegre viveu até meados do Século XIX”.
Assinala ainda, Cascudo, que “pelo norte ao centro
sul do Brasil o movimento era geral. Água, farinha do reino, gomas ensopavam os
transeuntes – águas molhando famílias inteiras em plena batalha”.
O velho jornal “O Comercial” que por muitos anos se
editou na Cidade de Feira de Santana, condenava, em 1871, o entrudo feirense,
com a seguinte nota: “O divertimento do entrudo passou nesta vila sem
lamentar-se desgraça alguma, graças ao desuso em que vai caindo esse péssimo
brinquedo”.
O entrudo permaneceu, entretanto, até 1891, ano em
que os jornais locais dão conta das primeiras manifestações carnavalescas.
Em 1877 – durante o entrudo feirense, no baile das
máscaras do Hotel Globo, o moço Francisco Xavier de Macedo recebeu uma estocada
e, no local denominado Minadouro desancaram a pauladas a Martim Levino Diêgo.
Como se pode notar a fama do Minadouro data de
longos anos. O entrudo era assim, uma festa bárbara, violente e absurda,
precursora do Carnaval.
Na Feira de Santana houve muitos entrudos, até que
surgisse o Carnaval que duraram alguns anos, quando então apareceu a festa
magnífica e grandiosa que é a Micareta.
Passada a fase do entrudo, a cidade começa a viver
o período carnavalesco propriamente dito e em 1891, a imprensa falava em
Carnaval, que teve a sua primeira agremiação fundada em 1924, o “Clube
Carnavalesco 2 de Julho”.
Oscilando entre a animação em certos anos e o
fracasso em outros; o carnaval foi sobrevivendo na Feira de Santana,
proporcionando ao povo momentos inesquecíveis de alegria, até que o
aparecimento da rodovia para Salvador decretasse o início do declínio carnavalesco,
aparecendo fraco e sem grande movimentação o tríduo de momo de 1932.
A nova rodovia determinava a ausência de foliões,
que preferiam o carnaval de Salvador.
Menção especial merece o carnaval feirense de 1929,
não só pela animação que reinou, como também pela revolta popular acontecida na
terça-feira, quando a cidade ficou às escuras por certo tempo.
Portando velas, o povo realizou enorme passeata até
a sede da Cia. Melhoramentos, que ficava situada defronte do local onde hoje se
ergue o Feira Tênis Clube, sendo contido, entretanto pelo então intendente Dr.
Elpídio Raymundo da Nova.
Voltando a luz o povo se divertiu na Praça da
Matriz até as primeiras horas da madrugada de quarta-feira, ao som da
Sociedade Filarmônica 25 de Março, que no coreto realizava retrata.
O fracasso do carnaval feirense, com animação
caindo de ano para ano, foi determinando o nascimento das festas de após
páscoa, que pouco ganharam mais animação e consistência até o seu surgimento
definitivo.
O carnaval de 1937, um dos últimos realizados nesta
cidade, apresentou a Srta. Eunira Alves Boaventura como Rainha e as Srtas. Teté
Fernandes, Maria Luiza Motta, Bernadete Lima Santos e Mary da Silva Azevedo,
como princesas.
O sr, Heráclito Dias de Carvalho, Prefeito
Municipal na época e por sinal um dos mais operosos que já passaram pelo
governo de Feira de Santana, era o Presidente de Honra da Comissão, que era
constituída, na parte executiva, pelos Srs. Oscar Erudilho, Hermogênes, Alvaro
Moura Carneiro, Rodolfo Ballalai, Pedro Matos e Vitor Santana.
A Comissão de Propaganda apresentava: Antônio
Garcia, Oscar Erudilho. Eliziário Santana e Arlindo Ferreira, sendo a Comissão
de Bailes assim constituída: Oscar Marques, Antônio Matos, Edgard
Vasconcelos, Álvaro Carvalho e Almiro Portugal.
Joaquim Costa, José Maciel Ribeiro, Florisberto
Moreira e Tertuliano Carneiro eram encarregados das ornamentações das ruas,
enquanto Jacy Assis, Ceres Figueiredo, Eunira Boaventura, Cremilda Sampaio,
Mariinha Assis, Eunice Alves Boaventura e Bernadete Lima Santos compunham a
Comissão Feminina.
Antes dos festejos carnavalescos de 1937, a
Comissão Feminina realizou a Festa dos Zíngaros, que foi assim comentada por
uma cronista da época: “A encantadora Festa dos Zíncaros, promovida pela
prestigiosa Comissão Feminina foi o prenúncio do brilhantismo do Tríduo da
Folia em que (podemos já informar) só haverá bailes a fantasia em as noite de
sábado, 6 de fevereiro próximo e da segunda-feira gorda, reservados o domingo e
a terça-feira de Momo para as passeatas vespertinas e noturnas de cordões,
batucadas, ranchos e blocos e para o corso de veículos ornamentados”.
Foi aí que o Profº Antônio Garcia, um dos redatores
da “Folha”, sugeriu a realização da Páscoa da Folia dando definitivamente,
início à chamada Micareta.
Era o Carnaval de 1937 aguardado com a máxima
ansiedade pelo povo que se divertiu pouco sem sentir-se plenamente satisfeito,
pois chuvas intensas e forte desabaram sobre a cidade durante o tríduo
carnavalesco, especialmente na chamada terça-feira gorda, a partir das 15h,
quando as chuvas foram mais fortes, prolongando-se ainda por toda a
quarta-feira de cinzas.
Fonte: Secom (PMFS)
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