Ao redor do mundo, jornalistas não estão acompanhando a revolução digital. Esta é uma das conclusões de uma pesquisa recente do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês), “O Estado da Tecnologia em Redações Globais”.
“Apesar das vantagens em abraçar a tecnologia, jornalistas simplesmente não estão acompanhando as transformações que estão varrendo a indústria”, disse Joyce Barnathan, presidente do ICFJ. “Este estudo aponta as lacunas, o que nos ajuda a entender como avançar agora mesmo em tudo, desde treinamento nas redações até segurança digital.”
Ainda assim, a pesquisa descobriu pontos notáveis em redações latino-americanas, onde organizações jornalísticas híbridas estão em ascensão e jornalistas lideram mundialmente em uso de mídias sociais. Entretanto, o estudo do ICJF também confirmou constatações independentes de que a maioria dos jornalistas latino-americanos não estão fazendo o suficiente em relação à segurança digital.
Estes e outros resultados foram apresentados no lançamento do relatório do ICJF, na conferência da Associação de Notícias Online (ONA, na sigla em inglês), no dia 5 de outubro, em Washington
Esta é a “primeira pesquisa sobre a adoção de tecnologias digitais em meios jornalísticos do mundo todo”, de acordo com a organização, que trabalhou em parceria com a Universidade de Georgetown para realizar o estudo.
Abaixo estão as principais conclusões a partir dos questionários coletados ao redor do mundo:
  • Há uma grave lacuna tecnológica nas salas de redação
  • Redações exclusivamente digitais e redações híbridas estão em ascensão
  • Nem todos os jornalistas estão utilizando ferramentas de verificação nas redes sociais ou protegendo suas comunicações
  • A maioria das redações considera que ganhar a confiança do público é um desafio
  • Precisamos rapidamente encontrar novos modelos de geração de receita
  • As redações precisam utilizar dados analíticos na tomada de decisões
  • A maioria dos funcionários nas redações são jovens
  • Os jornalistas querem treinamento que não está sendo oferecido pelos empregadores
O questionário foi disponibilizado em 12 idiomas, incluindo Espanhol, Português e Inglês, e foram recebidas respostas de 2.053 jornalistas e 728 diretores de redação de 130 países.
Na América Latina e no Caribe, 427 jornalistas (21% dos respondentes) e 137 redações (19%) participaram da pesquisa entre fevereiro e abril de 2017.
Os seguintes países da região participaram do estudo: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Granada, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Santa Lúcia, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.
Embora o ICFJ ainda esteja para divulgar informação regional mais detalhada nos próximos meses, que pretende apresentar em um formato interativo, alguns dados sobre a América Latina já estão disponíveis.
--- Redações tradicionais estão em declínio no mundo todo, e a América Latina não é uma exceção. A maioria das redações pesquisadas na região é o que o estudo classifica como híbridas, o que significa que elas usam uma combinação de formatos tradicionais e digitais. A segunda mais comum é a redação digital, seguida pela tradicional.
Resultados para a América Latina da pesquisa do ICFJ “O Estado da Tecnologia em Redações Globais”
--- Em termos de plataformas primariamente usadas por redações na América Latina para disseminar informação, 42% usa websites. Os jornais impressos são os próximos da fila, com 26%.
--- Sobre outras plataformas para disseminar notícias, quase 100% das redações na América Latina usam o Facebook (mais do que em qualquer outra região), 86% usam Twitter e 66% usam YouTube. Redações latino-americanas estão apenas em segundo lugar, depois da América do Norte, no uso do Twitter e do YouTube.
--- Em relação ao tamanho da equipe ao longo do ano passado, 42% das redações da região permaneceram as mesmas, enquanto 32% encolheram e 27% aumentaram.
--- Em termos de tecnologia, 67% das redações têm uma equipe de tecnologia, 66% têm equipes de gerenciamento de TI e do website, 65% têm equipes voltadas para as redes sociais, 50% têm equipes multimídia, 37% têm equipes de dados analíticos, 14% têm equipes de design UX e 11% têm equipes de desenvolvimento de produtos e aplicativos.
--- 53% dos jornalistas na América Latina e no Caribe usam aplicativos de mensagens instantâneas, índice menor somente do que o do Leste/Sudeste da Ásia (57%).
--- Para engajar o público leitor, 95% dos jornalistas da região que participaram da pesquisa usam nas  redes sociais, 40% usam mecanismos de pesquisa, 38% usam email, 28% usam aplicativos de mensagens instantâneas e 25% usam newsletters digitais.
Resultados para a América Latina da pesquisa do ICFJ “O Estado da Tecnologia em Redações Globais”
 
--- Em comparação com o resto do mundo, as redações latino-americanas estão atrasadas em termos de segurança digital: apenas 38% delas tomaram medidas de segurança.
--- 57% das redações latino-americanas considera que conquistar a confiança dos leitores é um grande desafio.
--- Os principais desafios apontados por redações latino-americanas são: a instabilidade das fontes de renda, a conquista de um público leal e a criação de conteúdo de qualidade. A pesquisa descobriu que as redações dos países em desenvolvimento são as que têm mais dificuldades com as mudanças nos modelos de negócio e em identificar novas fontes de receita. “Mais de 70% das organizações na África Subsaariana e na América Latina e no Caribe” consideram este o maior desafio.
No entanto, o estudo concluiu que, globalmente, “redações inteiramente digitais têm duas vezes mais chance do que redações híbridas de conseguir gerar renda a partir de fontes alternativas.”
“Foi fascinante ver que mídias inteiramente digitais têm se saído melhor do que mídias tradicionais em diversificar fontes de renda no mundo todo. Isso confirma que o que estamos aprendendo em nosso trabalho com empreendedores de mídias digitais na América Latina é parte de uma tendência global”, disse Janine Warner, ICFJ Knight Fellow e cofundadora da SembraMedia, uma organização sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento do empreendedorismo em mídias digitais na América Latina e na Espanha.
Consulte o estudo do ICFJ ou os destaques publicados no Medium para saber mais sobre como estão as redações da América Latina em comparação com redações de outras partes do mundo.