Hoje que as cortinas do sol fremem 
ante minhas retinas banhadas de passado, 
e que meus pés buscam a areia para 
o mergulho no insondável (ofertando ao tempo 
a morte das forças); 
ferro minha própria carne 
como quem açoita um corcel 
e seus cascos de faísca e fome; 
como quem recobra o fôlego 
no peito dilacerado entre as vísceras 
e o corte. 
neste ato de amputação, 
reacendo-me entre o aço e a pedra, 
e beijo a pátina lúdica das flores. 
agora que o muro não mais 
separa ou incita, e 
que a tua voz 
canta mais alto que a chuva 
(célere e indômita), 
encontro-me atado ao vazio 
em pleno latifúndio. 
desfaço minhas mantas bordadas 
à mão e ao sonho, contagiado 
pela placidez do vento adjacente. 
sou um rumor de água 
empoça na glote da história 
(uma epístola engarrafada). 
sou a sombra dissolvida 
no sereno da flora anêmica, 
desenhando a vastidão do olho 
aos pés do frio. 
o náufrago em terra firme 
com o coração

no chão.

(Nathan Sousa