“A Mudança do Garcia” acontece na segunda-feira gorda do Carnaval.

Em um carnaval marcado pela presença do grande capital, das grandes marcas, dos poderosos empresários, temos “a mudança do Garcia” que foge desse tripé redundante, enquanto os circuitos Barra/Ondina e Campo Grande são marcados pelas cordas, pelo turismo, pela branquitude protegida, pelo sistema de policiamento ostensivo, pela apolinização da festa, que inclui: horário, trajeto, trajes, personagens e ritmos preestabelecidos e previsíveis com o acréscimo do impedimento de manifestação.

“A Mudança do Garcia” age contra hegemonicamente, sem ritmos preestabelecidos, sem cordas, com personagens da vida real, em horário adverso e com ‘fantasias’ do dia a dia, onde o dionisíaco predomina.

“A Mudança do Garcia” nos fez trazer à memória o cantor e compositor Sérgio Sampaio e a sua lendária canção “Eu quero é botar meu bloco na rua”

Sampaio diz: “Há quem diga...”, duas vezes. Ambas carregadas de ironia, na primeira vez: “Dormi de touca, perdi a boca, fugi da briga”, que respectivamente significam: vacilo, perda de oportunidade e abandono. Isso ocorre quando “o pau quebrou...” Já o segundo “Há quem diga...” é marcado pelo “Não sei de nada...” “Não sou de nada...” “Não tenho culpa...”, respectivamente: ignorância, covardia e inocência.

Foto: Emerson Azevedo

“A Mudança do Garcia” nos inspira a botar o bloco na rua, a ter um gingado e gemido, desse que dói e que gera grito, não de horror ou pavor, mas de enfrentamento contra as forças opressoras ao gritar sem parar: “golpistas, facistas ... não passarão”!   

Sérgio Sampaio diz que queremos “isso” e “aquilo”. O que é “isso”? O que é “aquilo”?
“Isso” é motivo do nosso protesto e “aquilo” é o que parece impossível. E qual é o motivo do nosso protesto? Não é a simplicidade e a complexidade do protestar, mas transformar.
Mas o que é que parece impossível? Conseguir a transformação. Estando “nA Mudança do Garcia”, ‘nós’ realizamos o “isso” e “aquilo”.

Obrigado Sampaio, valeu “mudança do Garcia”.  Que o carnaval seja, na sua inversão, a revolução, que parte da multidão, não daquela sem forma, mas da que é desejante e não errante, pois bota o bloco na rua e é “isso” e “aquilo” que queremos!

Um xêro no coração de tod@s!


Everton Nery Carneiro e Emerson S Azevedo