Foto: Mateus Soares / bahia.ba

A música que revolucionou o Carnaval de Salvador e conquistou o Brasil e o mundo foi composta quando ele tinha apenas 20 anos.

“Eu falei faraó-ó-ó!”, em 1987, há portanto 30 anos, o Carnaval de Salvador foi impactado por uma música nova, épica, estranha, que não deixaria pedra sobre pedra na base ou no topo da pirâmide sócio-cultural. Seu porta voz era o bloco-afro Olodum, que, após uma pausa em que ficou sem desfilar, desde 1984 vinha se impondo como um grande nome da folia (embora ainda desconhecido de muita gente), graças sobretudo ao novo presidente, João Jorge, e seu mestre de bateria, Neguinho do Samba, ambos com passagens pelo Ilê Aiyê, o pioneiro. E o povo na praça, na rua, na chuva, na avenida respondeu: “Êêê-Faraó!”. Composta em setembro de 1986, a canção já fazia sucesso no Pelourinho, nos ensaios do bloco, mas foi no carnaval que a cidade inteira conheceu o seu esplendor.
Um dos que a descobriram em plena Praça Castro Alves foi Caetano Veloso. O santo-amarense inclui aquele momento entre as suas maiores emoções carnavalescas. “Ouvimos primeiro ao longe, depois por algumas pessoas próximas à estátua, que era onde ficávamos, sem que houvesse som de trio e sem saber que música era aquela…”, recorda. E completa: “Aprender ali, a canção e tudo sobre o Olodum, foi muito emocionante. Mudou o mundo!”. Daniela Mercury, então backing vocal do bloco Eva, foi outra que ficou espantada e encantada. Entre tantos e tantos, populares e artistas. E artistas populares. Era o primeiro samba-reggae conhecido, início de um novo som, de uma nova estética. Graças ao “Faraó”, ou melhor, graças a “Faraó – Divindade do Egito” (o nome oficial da canção), o Olodum vendeu mais de 50 mil cópias do disco “Egito/Madagascar” (1987), já naquela época. Em seguida, Djalma Oliveira gravou a música, na voz de Margareth Menezes. Depois, a Banda Mel, que fez ainda mais sucesso com sua versão pop. A própria Daniela Mercury também já gravou, mais de uma vez. Ivete Sangalo cantou. Todo mundo. Aliás, a música é um hit eterno, ou seja, um verdadeiro clássico. Mas tudo isso não se deu sem a resistência e estranheza que obras de arte assim inovadoras costumam suscitar.