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Entre os dias 21 e 24
de abril, Feira de Santana foi palco de um evento pioneiro sobre a temática
“Despatologização da Transexualidade”. Enriquecedor, o evento foi além e
englobou debates como direitos humanos, saúde, educação, segurança, mercado de
trabalho e família. O discurso ainda tratou sobre questões atuais, trazendo
dados que apontam o Brasil como o país onde ocorrem mais homicídios de
travestis, homossexuais e transexuais. E na pauta de discussões, a realidade de
Feira de Santana não ficou de fora. A cidade vive um momento de enfraquecimento.
Ao mesmo tempo em que há espaço para defesa de minorias, em contrapartida há
movimentos individualistas que se mostram contra.
Fábio Ribeiro, chefe
da Divisão de Promoção de Direitos das Minorias, na Secretaria de
Desenvolvimento Social em Feira de Santana, coloca que há na Câmara de
Vereadores edis fundamentalistas que se opõem aos projetos pró-transexualidade.
“Para a maioria dos legisladores e gestores a população transexual e
homossexual é invisível. No campo da segurança pública, por exemplo, não há um
trabalho para que as mortes sejam diminuídas”, explicou ele. Para Fábio, falta
proteção à dignidade humana, que é marginalizada em Feira de Santana e no
Brasil.
Saulo
Almeida, professor e psicólogo, outro palestrante presente, firmou a
importância da informação como combate à transfobia e homofobia. “Levar a
discussão para todos os locais possíveis faz com que as pessoas repensem sobre
a vida do outro. A gente não vive a dor do outro, mas quer ditar regras”. Saulo
também explicitou o seu olhar no campo da educação. Segundo ele, negros e
mulheres são pautas de discussão, mas de transexual e de homossexual não se
fala. Outra problemática trazida pelo orador foi o preconceito familiar. “A
pior discriminação é a que começa dentro de casa. Quando a criança, o
adolescente não supre expectativas, é violentada, seja física ou verbalmente. E
começam as exclusões psicológicas, as humilhações e as ofensas. Depois isso se
expande para outros campos: a dificuldade de circular, a escola, o mercado de
trabalho”, concluiu ele.
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| Ariane Senna |
Ariane
Senna, ativista de grupos que lutam contra o preconceito, integrou uma das
mesas do minicurso. Um dos momentos altos do evento, com depoimentos e
histórias pessoais, ela é uma das pessoas que duelam com o Código Internacional
de Doenças (CID) que trata a transexualidade como transtorno mental. A futura
psicóloga posicionou os avanços existentes, como o reconhecimento do nome
social, ainda que uma pequena porcentagem tenha conseguido a mudança de nome.
“A identidade marca as pessoas. É o nome com o qual eu me apresento. Gera mais
preconceito eu me apresentar com um nome masculino e a imagem feminina. As
políticas públicas têm muito que avançar ainda”. No seu entendimento, para uma
cirurgia de mudança de sexo o CID não deveria classificar o transexual como
portador de um distúrbio. A pessoa precisa colocar-se como doente para operar.
Deveria ser um direito devido à identidade de gênero. Nessa discussão Ariane acha que se pode ter
uma classificação, assim como mulheres grávidas precisam estar em um código
para tomar vacina e não são doentes. “Então que tenhamos, mas não como
distúrbio mental, já que 100% dos transexuais não portam essa classificação”,
esclareceu ela, que frisou que o transtorno acontece devido ao sofrimento e não
à identidade de gênero.
Outra
contribuição foi do professor e psicólogo Augusto Cézar. Ele ressaltou a
importância dos espaços para o tema ser discutido, já que quando se fala em
visibilidade as pessoas nem sempre estão atentas. Sob seu ponto de vista, ainda
são pouco discutidas análises críticas sobre o significado da patologização e
as repercussões negativas que a mesma traz. Augusto pondera a possibilidade de
uma discussão menos carregada de preconceito e mais realista, com uma sociedade
que esteja preparada para separar rótulos. Ele foi mais um dos palestrantes que
pontuou a família como uma das maiores barreiras, inclusive no tocante à construção
do lar. “São necessárias promoções de mudanças e adaptações. Muitas. Os
transexuais querem nada mais do que ter os mesmo direitos das outras pessoas.
Um dos exemplos mais simples é circular sem discriminação. E estabelecer
vínculos, casar, por que não podem? São conquistas que sofrerão impactos, mas
que serão históricas”. Reforçou também a inserção das discussões nas escolas,
já que estas são construtoras ideológicas de formações básicas que se mantêm
durante muito tempo nas nossas vidas.
Participante
do minicurso, Nagila Diniz, estudante de psicologia, afirmou que o tema é pouco
discutido e que as pessoas têm dificuldade de enxergar e aceitar o que veem
como diferente. Ela colocou o evento como uma expectativa para entender mais o
universo transexual, que se mostrou novo para ela, ao mesmo tempo em que
compreendeu e absorveu muito do que foi abordado.
Precursor
na cidade, o minicurso teve como uma das organizadoras Nizaneia Matos. Ela
pretende levar os debates adiante, devido à relevância do assunto e de direitos
que precisam ser respeitados. Como o amor, bandeira levantada por Fabio
Ribeiro, que com a frase “toda forma de amor vale a pena” concluiu o seu depoimento.
Por Laísa Melo
Assessoria de Comunicação e Imprensa



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