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Praça João Pedreira |
A noite de 25 de dezembro
de 2015 não teve só a lua cheia como algo de especial, teve também a ação de
pessoas que levaram momentos de comunhão, partilha, fé, irmandade e divisão do
‘pão’ com o próximo. Os atos ocorreram em dois momentos, o primeiro na praça
João Pedreira (próximo ao paço municipal), e o segundo às margens da BR 116
Norte, próximo ao Centro Social Urbano, no bairro Cidade Nova.
Trata-se de uma ceia de Natal, idealizada pelo artista plástico e ex-morador de rua, Danilo Santos, mais conhecido como “Danilo Tradição”, e realizada no espaço da praça João Pedreira, para contemplar as pessoas que vivem em situação de rua e exclusão social. O evento é realizado pelo segundo ano consecutivo. Danilo explica que a motivação foi de lembrar que na época em que morava na rua, o Natal era o período em que ele sentia mais falta da família, do calor humano, e do amor ao próximo. “Eu parei e pensei: por que não fazer o que o povo não fez pra mim na infância? Se eu quero mudar, eu tenho que ser o primeiro a dar o primeiro passo,” contou entusiasmado.
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Praça João Pedreira |
E fala ainda que todos os
donativos são frutos de doações de pessoas físicas da sociedade civil, mas sem
fazer palanque ou plateia, e completa que justamente por isso não procurou
ajuda do poder público local para desenvolver a ação, nem na primeira, nem na
segunda edição. “Pra todo mundo eu deixei claro: Quem quiser participar é sem
plateia! Sabe por quê? O ser humano quer posar, quer ostentar demais. Eu
ostento, ostento esperança, ostento amor, ostento oportunidade, ostento a
palavra de carinho... É ser social, se doar sem retorno,” expressou Danilo.
A massoterapeuta
Alexsandra Almeida, que integra a organização do evento, fala da alegria de ter
uma significativa participação de pessoas, tanto nos preparativos, quanto na
participação, e lembra que no ano passado a ação foi menor e que só tinham
quatro pessoas organizando e acreditando que aquilo poderia dar certo.
A ceia na praça João
Pedreira se encerrou por volta das 20 horas e seguiu pra BR 116 norte, nas
proximidades do complexo viário, nos fundos do Centro Social Urbano, também
próximo ao lixão da Feira da Cidade Nova.
Cidade Nova
No local a iluminação é
precária, as condições de vida também, uma vez que as pessoas que ali estão
moram em barracos de plástico sem as mínimas condições básicas de acomodação,
alimentação, saúde, proteção entre outras garantidas na Constituição Federal.
Mas, mesmo assim, uma mesa improvisada foi arrumada, uma oração de
agradecimento foi entoada e a ceia de natal servida, fazendo da noite daquelas
pessoas um momento diferente e acolhedor. Vale salientar que, além dos
alimentos, também foram distribuídos brinquedos às crianças e roupas e calçados
entre os adultos.
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Cidade Nova |
Nossa reportagem constatou
que em uma das barracas moram em média 13 pessoas, numa outra uma mãe e cinco
crianças. Em conversa com a ativista cultural, Nai Oliveira, que ajudou também
nos preparativos da ceia, verificamos como as famílias foram identificadas. A
ativista conta que chegou ao local por volta de meio dia e ficou chocada com a
situação, e ao mesmo tempo sensibilizada com tudo o que viu e ouviu. “Eu
conversei com Isabel, mãe de cinco filhos, perguntei pra ela o que ela dava
pras crianças, ela disse que quando alguém dá o leite que ela mistura com muita
água e açúcar, coloca na mamadeira e dá aos menores e num copo para os
maiores... E quando não tem o leite dá uma água com açúcar... Eu voltei pra
casa chorando,” contou emocionada.
Veja neste slide a cobertura fotográfica
Posicionamento do Terra de Lucas
É lamentável que tenhamos
um país de tantas injustiças e de uma divisão social tão excludente a ponto de
pessoas chegarem à situação de rua, o que às expõe a uma situação de extrema
vulnerabilidade. Rua esta que é o espaço de todos e ao mesmo tempo de ninguém,
rua esta que reserva o nada e as surpresas.
Aos poderes públicos locais, como
cidadãos contribuintes e cientes de nosso direito à cidadania, exigimos
providências a fim de erradicar essa situação, proporcionando a essas pessoas,
locais estruturados para que elas possam habitar, alimentação, condições de
saúde, higiene, educação e dignidade, tudo isso está previsto na Constituição
Federal, e além da força da Lei, tem algo ainda maior, o valor à espécie
humana. E nem adianta falar em crise, pois dinheiro há, os cofres públicos
arrecadam impostos a todo momento, e qualquer pessoa de governo sabe melhor que
nós, quando a máquina pública local não
tem dinheiro em caixa pra esse tipo de situação, bons projetos trazem dinheiro
da esfera Federal, portanto dinheiro não falta.
Por Emerson Azevedo.
Enquanto isso no impostômetro do Brasil...
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